
Dinis Santos
Pântanos irrespiráveis, buracos negros, tempestades de areia. Os cenários ou boletins meteorológicos vão variando, mas é sempre a vulnerabilidade do homem perante as forças da natureza que é reverberada em Climas, o novo espetáculo da Circolando. Mais do que seguir uma narrativa, os criadores André Braga e Cláudia Figueiredo deixaram os intérpretes vaguear entre altas e baixas pressões, fazendo dos fenómenos naturais extremos um motivo para se descobrirem e se exporem aos outros.
Regressam a Goethe e ao seu Diário das Nuvens (já explorado no espetáculo-percurso Espírito do Lugar 2.0), optando agora por um palco convencional. O encontro entre poesia e estudo da natureza, promovido pelo autor alemão, esteve na base dos exercícios dos intérpretes (Costanza Givone, Daniela Cruz, Gil Mac, Margarida Gonçalves, Paulo Mota, Ricardo Machado), verdadeiros cocriadores de Climas. “Fizemos improvisações muito longas, para que pudessem chegar a lugares que não conhecem, mas que são muito seus”, explica André Braga. Avassalados por uma espécie de “hipersensibilidade climática”, um estado febril e inquieto, trabalham diferentes paisagens emotivas ou físicas. Há dança, teatro, vídeo e som a contribuir para a tempestade perfeita. O palco do Teatro Nacional S. João, rodeado de plantas, antenas parabólicas e torres de observação, transforma-se numa mistura entre estação meteorológica, sanatório e laboratório artístico. Onde o indizível acontece.
Climas > TNSJ > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > até 18 dez, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €7,50 a €16