É de uma sequência de convites que resulta Carnaval, de Victor Hugo Pontes. Primeiro, o da Companhia Nacional de Bailado, que lhe propôs a criação de uma coreografia para a peça de Camille Saint-Saëns, O Carnaval dos Animais. Depois, o que fez a 12 compositores que conceberam um tema de quatro ou cinco minutos, em registo de cadáver-esquisito, cada um sobre um animal – ao leão, às galinhas, aos elefantes, às tartarugas de Saint-Saëns vieram juntar-se pinguins, porcos, lagartos, mas também sereias, faunos, centauros, uma Fénix e dinossauros. “Não é importante perceberem-se que animais são”, sublinha o coreógrafo que vestiu os bailarinos de fatos justos com padrões ampliados de animais que nem sempre correspondem àqueles que interpretam. Mais adiante, os padrões coloridos darão lugar a vestes cor de pele, deixando os corpos mais expostos.
“Não me interessava uma ideia de sarau, com os animais a entrarem em cena uns a seguir aos outros.” Como ligar tudo? “Imaginei uma feira popular abandonada, onde os que trabalham neste carrossel farão um espetáculo pela última vez. Aqui brinca-se ao faz de conta.” Sendo O Carnaval dos Animais uma paródia a outras obras, Victor Hugo Pontes foi também buscar referências coreográficas – de outros e sobretudo suas. Mas não se espere ver aqui Zoo, que criou em 2013, em que trabalhava a fisicalidade dos animais no corpo dos bailarino. Em Carnaval, o que sobressai são os ensembles de corpos. Uma vez mais, joga com a tridimensionalidade em palco, pondo ali uma estrutura elevada, um “poço da morte” que tira os bailarinos do chão plano e que pode parecer um glaciar por onde desliza um pinguim ou um túnel por onde segue um carreiro de formigas. “Gosto de trabalhar em altura, largura e profundidade”, afirma o coreógrafo, que trocou a pintura pela dança. Ganhámos nós definitivamente.
Teatro Camões > Passeio do Neptuno, Lisboa > T. 21 892 3470 > até 26 jun, qui-sáb 21h, dom 16h > €5 a €30 > Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 1-2 jul, sex 21h30, sáb 19h > €7,50