Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, é uma longa metragem baseada nas cartas que António Lobo Antunes escreveu à sua mulher durante a Guerra Colonial
1. Ecos de Berlim
Será a primeira oportunidade para o público português ver dois filmes que estiveram em destaque no último Festival de Berlim, onde Portugal contou com uma comitiva recorde. Assim, logo na sessão de abertura, passa Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira. Uma longa metragem baseada nas cartas que António Lobo Antunes escreveu à sua mulher, Maria José, durante a Guerra Colonial, publicadas no livro D’este viver aqui neste papel descripto. Ivo M. Ferreira parte destes escritos para fazer uma reflexão sobre a insanidade daquela guerra, enquanto conta uma história de amor e mostra a génese de um escritor. Também apresentado pela primeira vez em Portugal, Balada de um Batráquio, curta que valeu um Urso de Ouro a Leonor Teles, estará em competição nacional. Um filme ativista e atuante, um manifesto pela tolerância contra a discriminação da etnia cigana em Portugal, simbolizada pelos sapos colocados à porta de lojas.
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Treblinka, de Sérgio Tréfaut, viaja na Europa Central num comboio cheio de fantasmas e de memórias do mais hediondo campo de extermínio nazi
2. Competição Nacional
O Indie antecipa alguns dos grandes filmes portugueses que estrearão em sala brevemente, assim como dá oportunidade para ver em primeira mão algumas obras nacionais de grande qualidade. Na competição Nacional, estão presentes quatro longas metragens. Estive em Lisboa e Lembrei de Você é um dos filmes portugueses com maior impacto. Produzido essencialmente no Brasil, pelo realizador luso José Barahona, baseia-se no romance homónimo de Luiz Ruffato. Conta uma história de emigração. Um brasileiro de uma pequena cidade de Minas Gerais parte atrás do sonho português, deixando a sua família desmembrada para trás. Portugal, e mais concretamente Lisboa, é apresentado como o El Dourado no interior brasileiro, durante o próspero início do século XXI. Um paraíso que rapidamente se desfaz em pó. Sérgio Tréfaut, por seu lado, viaja na Europa Central num comboio cheio de fantasmas de Treblinka. As memórias do mais hediondo campo de extermínio nazi, a partir do livro Sou o Último Judeu, de Chil Rajchman, com ecos no presente. Um filme duríssimo e esteticamente inteligente. Há ainda espaço para O Lugar que Ocupas, de Pedro Filipe Marques; e Paul, de Marcelo Félix.
3. Filme concerto, festa da música
Há muito que o IndieLisboa e os Dias da Música de Belém coincidem temporalmente e se batem pelo protagonismo mediático, durante o mês de abril. Agora, mostraram que as programações podem complementar-se, com benefício para ambas: a pré- -inauguração dos Dias da Música de Belém, no São Jorge, decorre em parceria com o Indie, com Rondó da Carpideira, um espetáculo multidisciplinar de homenagem ao trabalho de Michel Giacometti, com Mário Marques (sax) e Daniel Bernardes (piano).
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The Lobster, de Yorgos Lanthimos, passará numa maratona cinematográfica no Cinema Ideal
Lanthi
4. Maratona do inferno
No ano passado, o Indie reformulou as suas secções, criando, entre outras, a Boca do Inferno, pensada especialmente para as sessões da meia-noite no Cinema Ideal. Em 2016 vai mais longe e, recuperando a velha tradição das noites brancas do Cinema Quarteto, propõe uma maratona de cinema, no dia 23, das 23 e 30 até às 6 e 30 da manhã do dia seguinte, em sessões contínuas, no Ideal. Não passam meramente filmes de género, mas apropriações de género, numa estética verdadeiramente independente: The Lobster, de Yorgos Lanthimos; Love, de Gaspar Noé; Un Monstro de Mil Cabezas, de Rodrigo Plá…
5. Parkinsons ao vivo e Indiemusic
A secção do Indiemusic sempre foi das mais procuradas do festival, com documentários, biografias, filmes com e sobre música, procurando uma abrangência de abordagens, de públicos e de géneros. Este ano temos por exemplo Tecla Tónica, uma história da eletrónica em Portugal, da autoria de Eduardo Morais. Ou Miss Sharon Jones, o retrato da lenda do soul, por Barbara Kopple. Mas o maior destaque vai para A Long Way to Nowhere, um documentário da britânica Caroline Richards, sobre os portugueses Parkinsons. Melhor ainda é a notícia de que a banda de Coimbra vai reunir-se para um concerto inserido no Indie by Night.
6. Viagem a Xangai
Desta vez o Indie alarga ainda mais o seu território com uma programação específica no Museu do Oriente. O museu vai receber apenas um filme, embora se trate de um filme que vale por três. Literalmente. A Família, de Shumin Liu, dura mais de quatro horas e conta a história de duas gerações em Xangai, um retrato pujante da China atual por um dos mais promissores realizadores chineses, já comparado com Yasujiro Ozu.
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O Indie presta homenagem ao realizador holandês Paul Verhoeven