Da música a outras artes, o País dos clássicos Rachmaninoff, Prokofieff, Tchekov, Tchaikovski ou Tolstoi, mas também dos contemporâneos Grigory Sokolov, Dmitri Sinkovski ou Alina Igragimova atravessa grande parte da programação do próximo ano da Casa da Música, no Porto. Depois da Alemanha, é a vez da Rússia ocupar a agenda naquela que, garante António Jorge Pacheco, diretor artístico e de educação da Casa da Música, será “a maior mostra de música russa jamais levada a cabo em Portugal”.
As duas monumentais integrais – sete Sinfonias, de Sergei Prokofieff e os quatro Concertos para piano e orquestra, de Sergei Rachmaninoff – ocupam transversalmente todo o ano, recordando, de certa forma, a importância do “país dos génios”, como lhe chamou o diretor da Casa da Música durante a apresentação da nova temporada no final da tarde desta quarta, 18. Mãe Rússia fará as honras de abertura, entre 15 e 17 de janeiro, durante um fim de semana que promete ser apoteótico. Ao longo de três dias, a Orquestra Sinfónica, Remix Ensemble e Coro Casa da Música revisitam, em separado, o Concerto nº4 para violino e orquestra, de Alfred Schnittke, A Sagração da Primavera, de Igor Stravinski e Vésperas, de Rachmaninoff. Ainda em janeiro, o maestro Kirill Karabits, especialista na obra de Prokofieff, abre o ciclo da Integral das Sinfonias, de Sergei Prokofieff dirigindo a Orquestra Sinfónica no final do mês (29 jan).
A estreia de Gabriel Prokofiev, 40 anos, neto do compositor russo Prokofieff, é uma das novidades para 2016 da Casa da Música com o seu já célebre Concerto for Turntables e Orchestra (8 abr) e uma versão da célebre Sinfonia nº4 do seu avô. Depois de atuar na Sala Suggia, o compositor, dj e produtor britânico, que mistura a música orquestral com eletrónica e urbana, juntar-se-á ao premiado dj Switch para animar o bar da Casa da Música. Mais tarde, em julho (dia 29), Gabriel Prokofiev regressa com uma estreia mundial encomendada pela Casa da Música que volta a juntar o produtor à Sinfónica “numa ponte entre a música erudita e o hip hop” onde não faltará também a atuação do dj Switch, o britânico vencedor do campeonato DMC DJ em 2008.
Mas há outras novidades. Os Mão Morta juntam-se, pela primeira vez, ao Remix Ensemble (19 abr) para um concerto que assinala o centenário do Theatro Circo de Braga e percorre temas míticos da banda bracarense estreada em 1985 no Porto. Por altura dos Concertos de Páscoa, o maestro e oboísta Alfredo Bernardini estreia-se com a Orquestra Barroca (24 mar), o maestro russo Vassily Sinaisky apresenta-se, pela primeira vez, com a Orquestra Sinfónica (29 abr), a versátil violinista Alina Ibragimova atua num recital (15 nov) e junta-se, dias depois, à Orquestra Barroca (20 nov). As gémeas alemãs Christina e Michelle Naughton também se revelam por cá (a 22 nov), num recital de piano a quatro mãos e para dois pianos de Mozart a Tchaikovsi.
O pianista russo Grigory Sokolov, presença já habitual a cada ano no Ciclo de Piano da Casa da Música, regressa em março (dia 8), assim como a maestrina Joana Carneiro que dirige, desta vez, a Orquestra Sinfónica (25 jun) no rescaldo das festas de S. João. Da programação de 2016 – que presta homenagem a Manuel Dias da Fonseca, falecido no último verão, melómano e fundador do Quarteto de Cordas de Matosinhos – fazem parte os já habituais festivais Invicta.Música.Filmes (13-21 fev), que projetará, entre outros, o filme do bailado Romeu e Julieta, de Prokofieff com a Companhia de Ballet do Teatro Bolshoi; o ciclo Musica & Revolução (23 abr-1 mai), dedicado a compositores perseguidos pelo regime soviético como Prokofieff ou Chostakovitich; Rito da Primavera, Verão na Casa, Outono em Jazz ou Transgressões. Neste último (13-25 set) destaca-se a estreia de Viagem de Inverno, de Schubert com o Remix Ensemble, a voz do tenor Christoph Prégardien e a direção cénica de Nuno Carinhas. O suíço Heinz Hollinger, 76 anos, será o artista em residência em 2016, no ano em que o compositor em residência será o grego Georges Aperghis. Motivos suficientes para, como reforçou António Jorge Pacheco no final da apresentação, demonstrar que “a música como qualquer arte pode ser inútil, mas é absolutamente necessária”.