SÉRIES
Roubos misteriosos, casamentos perfeitos e vidas atormentadas são alguns dos temas destas ficções cheias de personagens fortes
1. Os Marretas, Disney+ (para quem gostou de Mais Marretas do que Nunca)
As criações de Jim Henson são incomparáveis. A Disney+ já dispunha de uma coleção dedicada aos filmes e à série mais recente, Mais Marretas do que Nunca. Inexplicavelmente, tinha deixado de fora Os Marretas, a série original que foi para o ar entre 1976 e 1981, um deleite para os fãs do Sapo Cocas, da Miss Piggy, do Urso Fozzie, do Gonzo ou do Chefe Sueco, entre muitos outros fantoches (é fácil ter um preferido). Agora, “chegou o momento de pôr a música a tocar e de acender as luzes”, como diz o genérico, com a estreia das cinco temporadas do The Muppet Show na plataforma de streaming. O leque de convidados do programa de variedades é excecional, com Elton John, John Cleese, Vincent Price, Julie Andrews ou Peter Sellers, entre outras estrelas, a participarem em sketches e momentos musicais hilariantes. Statler e Waldorf lá estarão no camarote, com as suas críticas mordazes. J.L.
2. Lupin, Netflix (para quem gostou de A Casa de Papel)
Desde a última temporada da série espanhola que não torcíamos pelos ladrões da trama. Em Lupin também há furtos mirabolantes, logo no primeiro episódio, durante o leilão de um colar de diamantes no Museu do Louvre, com o enredo a sofrer inúmeras reviravoltas. Naquele colar estão escondidos muitos segredos, que explicam o desejo de vingança de Assane Diop (o ator Omar Sy), uma versão moderna do célebre Arsène Lupin, o ladrão de casaca dos romances policiais de Maurice Leblanc, também com muitos truques na manga. O protagonista não consegue esquecer a morte do pai, enquanto estava na prisão, injustamente acusado por um crime que não cometeu. Passados 25 anos, procura descobrir o que aconteceu. A série tem apenas cinco episódios, mas já foram anunciados outros tantos para o verão. J.L.
3. Ii’s a Sin, HBO (para quem gostou de Trainspotting)
É preciso recuar 40 anos para nos recordarmos como a sida, uma doença até então desconhecida, assustou o mundo, o mesmo mundo que agora lida com uma pandemia democratizada. Na Londres dos anos 1980, ser portador do vírus VIH era sinónimo de homossexual ou de toxicodependente, como o quarteto viciado em heroína de Trainspotting, filme de culto de Danny Boyle. Os cinco episódios de It’s a Sin, de Russell T. Davies (A Very English Scandal, Years & Years), uma história autobiográfica, centram-se nas vidas de Ritchie, Roscoe e Colin, de 18 anos, todos homossexuais, que se confrontam com o surgimento da doença que, depois, os vai unir numa luta contra o preconceito. Com Olly Alexander (cantor da banda Years & Years) a encabeçar o elenco, o autor e realizador não hesitou em escolher atores homossexuais para as suas personagens.
4. Até Que a Vida nos Separe, RTP Play (para quem gostou de Solteira e Boa Rapariga)
Falar de casamento nem sempre é sinal de romantismo. Pode, aliás, ter muitas agruras, como também acontecia em Solteira e Boa Rapariga, com Lúcia Moniz. São precisamente esses altos e baixos que a série escrita por Hugo Gonçalves, João Tordo e Tiago R. Santos, com realização de Manuel Pureza, aborda. Os afrontamentos típicos da meia-idade levam Vanessa (Rita Loureiro) a colocar tudo em perspetiva, principalmente o seu casamento com Daniel (Dinarte Branco), celebrado há 30 anos. Na família Paixão, falar de histórias de amor é o pão nosso de cada dia ou não tivessem uma quinta dedicada ao negócio dos casamentos – prestes a serem parceiros de um reality show, em que os noivos só se conhecem no altar. Mas, haverá uma fórmula para o amor? Os oito episódios da série da RTP1 respondem. Do elenco da série – com banda sonora da banda portuguesa Cassete Pirata – fazem ainda parte José Peixoto, Madalena Almeida, Albano Jerónimo e José Mata, entre outros.
5. A Desordem que Deixas, Netflix (Para quem gostou de Elite)
Pode começar-se a ver A Desordem que Deixas por se gostar de produções espanholas, ou de Inma Cuesta (uma das protagonistas, já três vezes nomeada para o prémio Goya) ou, simplesmente, por ser um argumento misterioso e viciante. Até ao fim dos oito episódios, não se adivinha o que aconteceu a Viruca (Bárbara Lennie), professora que Raquel (Inma Cuesta) vai ter de substituir. Criada a partir do livro homónimo de Carlos Montero, um dos autores da série Elite (outro sucesso espanhol no streaming), e apesar de também mostrar a vivência de uma escola secundária, trata-se de um thriller que não entra na categoria das séries juvenis.
6. The Virtues, Filmin (Para quem gostou de Listen)
É a uma Irlanda católica que Joseph (Stephen Graham), um homem com uma vida desinteressante, regressa. É um ato de desespero que o leva até à porta de casa da irmã (Helen Behan), que ele não vê desde pequeno. Em The Virtues, o autor e realizador Shane Meadows, aclamado com o filme This Is England (2006), contou com Jack Thorne para a escrita do argumento desta minissérie, com banda sonora original de PJ Harvey. Uma comovente história de redenção e de sobrevivência, tal como Listen, de Ana Rocha de Sousa, filme premiado no Festival de Veneza.
7. Felizes, Mas Não Para Sempre, RTP Play (Para quem gostou de Rita)
Esqueça o género nordic noir. Nestas séries escandinavas, vê-se a vida a acontecer. A de Karen, personagem principal de Felizes, Mas Não Para Sempre, desmorona quando descobre a infidelidade do marido. Nanna Kristín Magnúsdóttir escreve, realiza e dá corpo a esta conselheira matrimonial, de 38 anos e mãe de três filhos, que, ao longo destes seis episódios, enquanto tenta descobrir a verdade, se vê confrontada com a realidade do seu corpo, o poder das redes sociais e a pertinência dos conselhos matrimoniais que dá. S.L.F.
8. Wandavision, Disney+ (Para quem gostou de Vingadores: Guerra do Infinito)
A primeira série da Marvel Studios, produzida exclusivamente para o Disney+, é uma espécie de simbiose entre um clássico de televisão, com momentos cómicos, ao estilo sitcom americana, e o universo cinematográfico da Marvel. Com nove episódios, WandaVision, dirigida por Matt Shakman (Mad Men), traz de volta Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Vision (Paul Bettany), personagens que, durante anos, “viveram” nas páginas de banda desenhada, em particular de Os Vingadores. Na série, o casal, detentor de superpoderes, vive uma aparente vida perfeita, nos subúrbios, em que nem tudo é o que parece. S.S.O.
FILMES
Estreias na realização, novas caras na representação, dramas biográficos, que lembram figuras notáveis, e histórias de amor, sempre o amor
9. EUA vs. Billie Holiday, Hulu (Para quem gostou de Ma Rainey: A Mãe dos Blues)
Depois de Viola Davis encarnar Ma Rainey, figura pioneira do blues, em breve, ouviremos Billie Holiday na voz de Andra Day, atriz e cantora que protagoniza o drama biográfico realizado por Lee Daniels, focado nos últimos anos de vida da diva do jazz. Eleanora Fagan Gough (1915-1959), para sempre conhecida como Billie Holiday, foi uma das primeiras cantoras negras a atuar com músicos brancos. Do seu repertório, em 1939, passa a fazer parte Strange Fruit, canção que compara os negros enforcados aos frutos das árvores do Sul e que viria a ser proibida nas rádios. Perseguida pelo FBI, a cantora lutou contra a dependência de álcool e drogas até morrer, aos 44 anos. Estreia 26 fev, sex
10. Soul, Disney+ (Para quem gostou de Divertida-Mente)
Dizer que há filmes que são para todas as idades, mesmo quando os vemos pela mão dos filhos e sobrinhos, é um cliché bem verdadeiro. Foi assim com Divertida-Mente, da Disney Pixar, vencedor do Oscar de melhor filme de animação em 2016, e foi assim com Soul, filme que tem o jazz como pano de fundo para contar a história de Joe Gardner, um professor de música que sempre sonhou ser pianista numa banda – e o primeiro protagonista negro de um filme da Pixar. Soul era para ter estreado nas salas de cinema em junho de 2020, mas a pandemia, já se sabe, levou-o direitinho para a plataforma de streaming Disney+, no dia 25 de dezembro. Um excelente presente de Natal. I.B.
11. Malcolm & Marie, Netflix (Para quem gostou de Marriage Story)
A noite tinha tudo para ser de celebração, sobretudo para Malcolm, realizador presunçoso, que chega a casa com o ego cheio do aplauso do público na antestreia do seu novo filme. Marie, a namorada, consegue virar o foco da atenção, pois acha que o sucesso profissional dele a ela se deve. Ele é John David Washington (Tenet, BlacKkKlansman), ela é Zendaya (Euphoria) numa realização de Sam Levinson (Euphoria). A preto e branco, Malcolm & Marie foi gravado em plena pandemia, no verão de 2020, com apenas dois atores e uma casa, filmada de variadíssimos ângulos. A discussão do casal já madrugada dentro permite explorar a personalidade de cada um e o que os incomoda um no outro, como faziam Adam Driver e Scarlett Johansson em Marriage Story. O filme chega ao fim com uma ligeireza desproporcional a algumas cenas, que são uma montanha-russa de emoções.
12. O Tigre Branco, Netflix (Para quem gostou de Quem Quer Ser Bilionário?)
Ambos os filmes realçam os contrastes da sociedade indiana e seguem a vida, desde tenra idade, do protagonista. Em O Tigre Branco, adaptação do best-seller de Aravind Adiga, Balram Halwai (Adarsh Gourav) oferece-se para dizer toda a verdade sobre a Índia ao Presidente chinês, de visita ao país, usando como exemplo a sua história. Uma ascensão social e conquista da liberdade com muitos atropelos morais. Só ao alcance de tigres brancos. J.L.
13. One Night in Miami, Amazon Prime Video (Para quem gostou de Selma – Uma Luta Pela Igualdade)
E se Malcolm X, Cassius Clay, Jim Brown e Sam Cooke, grandes lendas ligadas à política, ao desporto e à música, se reunissem, uma noite, num quarto de hotel? O encontro dos quatro, em 1964, na Flórida, aconteceu mesmo e inspirou Regina King que, em One Night in Miami, se estreia como realizadora. O filme aborda as questões ligadas à comunidade negra nos Estados Unidos da América, numa conversa que começa por assuntos culturais, passa pela política e acaba nos direitos civis. Um tema bem atual, portanto. S.S.O.
14. Ordem Moral, TVCine Edition (Para quem gostou de A Generala)
A história de Maria Adelaide Coelho da Cunha – uma vida de emancipação, como a de Maria Teresinha Gomes, retratada em A Generala – já foi contada por vários periódicos, ao longo dos tempos, e também, recentemente, por Agustina Bessa-Luís e por Manuela Gonzaga. No seu mais recente filme, o realizador Mário Barroso procurou a própria história, desenhada a pensar na atriz Maria de Medeiros. Na base, está uma mulher de 50 anos, da alta sociedade lisboeta, filha do fundador do Diário de Notícias, que foge com o motorista, muito mais novo, provocando, além do escândalo, a perseguição do marido que acaba por interná-la num manicómio. M.H.
DOCUMENTÁRIOS
Conversas soltas, movimentos artísticos, lendas do desporto e até palavrões são dignos do género documental
15. Pretend It’s a City, Netflix (Para quem gostou de Bill Cunningham New York)
Fran Lebowitz tem muita coisa a dizer sobre Nova Iorque. Aliás, são poucos os assuntos mundanos que escapam à escritora e humorista de 70 anos, na cidade para onde foi viver em 1969, com 19: as placas nos passeios, as pessoas que caminham a olhar para o telemóvel, os odores desagradáveis no comboio, os bancos para nos sentarmos na Time Square… Pretend It’s a City, na Netflix, dá-nos três horas e meia de conversa entre Lebowitz e Martin Scorsese, que realiza este documentário em sete episódios, com muito sarcasmo dela e muitas gargalhadas dele. Se Lebowitz tem essa capacidade rara de relacionar coisas à primeira vista díspares de uma forma que ilumina e diverte, é quando as atenções se viram para a sua história pessoal que o documentário se torna ainda mais interessante. I.B.
16. The Lady and The Dale, HBO (Para quem gostou de Tiger King)
Chegados ao fim dos quatro episódios de The Lady and the Dale, ocorre-nos uma frase de Mark Twain: “A grande diferença entre realidade e ficção é que a ficção tem de parecer credível.” E se este enredo fosse ficcional, dificilmente se acreditaria em tudo. Aqui, conta-se a história de Jerry Dean Michael, carismático fura-vidas nascido em 1927. Na verdade, não. Nesta série, ficamos a conhecer a vida de Geraldine Elizabeth Carmichael, mulher transexual que desistiu de ser “Jerry” (no processo, os filhos passaram a chamar-lhe “mãe” em vez de “pai”). E não foi uma vida qualquer… Liz Carmichael sonhou, nos anos 70, em plena crise petrolífera, criar uma marca de automóveis revolucionária, assente num original modelo de três rodas chamado The Dale. É uma história de empreendedorismo e ambição à americana, mas também de fraudes, crimes e mentiras. Contornando a dificuldade de não terem acesso a muitas imagens da ação real, os realizadores recorrem várias vezes a engenhosas cenas de animação, combinando desenhos e fotografias (à la Monty Python). P.D.A.
17. A História dos Palavrões, Netflix (Para quem gostou d’O Mundo Segundo Jeff Goldblum)
Antes de assistir a esta História dos Palavrões, saiba o leitor que ouvirá muitas asneiras. Se, por um lado, a linguagem pode deixar-nos desconfortáveis, por outro também não deixaremos de sorrir ao identificarmos algumas situações relatadas nesta minissérie apresentada pelo ator Nicolas Cage. Ao longo de seis episódios, de 20 minutos cada, explicam-se a origem, o impacto e o uso (algumas vezes, exagerado) dos palavrões na cultura norte-americana, através de entrevistas a especialistas em etimologia, cientistas cognitivos, historiadores e comediantes. S.P.
18. Tiger, HBO (Para quem gostou de The Story of Diana)
Uma biografia não autorizada de Tiger Woods, num documentário com dois episódios em que se traça o perfil do maior jogador de golfe de todos os tempos, a partir de depoimentos de pessoas que lhe eram próximas. Começa na infância para mostrar, depois, a pressão exercida pelo inflexível pai (Earl Woods), as ameaças raciais num desporto que era o bastião de uma América branca, a soma das vitórias e como a máquina da fama engoliu a lenda (os escândalos sexuais, o divórcio, as cirurgias ao joelho e às costas, o consumo de analgésicos, a prisão). Longe dos greens durante anos, Tiger Woods voltaria em 2018 e 2019, mostrando que o golfe nunca saiu dele. F.A.
19. Pelé, Netflix (Para quem gostou de Andrés Iniesta)
Aos 80 anos, Edson Arantes do Nascimento tem um documentário sobre os 12 anos mais importantes da sua carreira de futebolista, entre a conquista do seu primeiro (1958) e terceiro campeonatos do mundo (1970). “Em breve, terei a oportunidade de reviver as minhas memórias… Estou empolgado para assistir!”, escreveu Pelé, no Facebook. O documentário, com imagens de arquivo e entrevistas com colegas como Zagallo e Jairzinho, é produzido pelo britânico Kevin Macdonald. F.A.
20. Painting with John, HBO (Para quem gostou de Pretend it’s a City)
Figura do underground nova-iorquino nos anos 80, com um percurso que inclui música (fundou o grupo de jazz The Lounge Lizards), cinema e televisão, John Lurie regressa com este documentário de seis episódios em que discorre sobre as suas memórias enquanto pinta aguarelas, o seu passatempo desde que contraiu a doença de Lyme. Com humor, irreverência e ironia, fala dos amigos, incluindo Anthony Bourdain, do encontro com Barry White, e lembra que é preciso sermos criativos e divertidos, todos os dias. S.L.F.
21. Os Minimalistas: Less is Now, Netflix (Para quem gostou de Minimalismo: Um documentário sobre as coisas importantes)
Como pode a vida ser melhor com menos? É esta a pergunta lançada no início do documentário Os Minimalistas: Less Is Now, com a dupla Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, e que dá continuidade a Minimalismo: Um documentário sobre as coisas importantes, de 2016. O título, inspirado na máxima menos é mais, do arquiteto alemão Mies van der Rohe, mostra-nos como podemos viver felizes com menos tralha. Uma missão mais difícil do que parece. S.P.