Por aqui adoramos o british accent de Tony, o seu tom de voz monocórdico, a fina ironia, o humor negro, tão negro quanto o seu coração, mirrado de dor pela perda de Lisa, a sua mulher, que se finou de cancro. Também sentimos alguma empatia pelo facto de Tony ser jornalista, claro, embora tenha zero empenho na sua função de repórter de excentricidades banais num jornaleco local, da mesma forma que tem zero empenho na sua vida social.
Nesta série, criada, escrita, protagonizada, dirigida e produzida por Ricky Gervais (lembram-se d’O Tal Canal?), dizem-se muitos palavrões e não há cá falinhas mansas. Mesmo assim, o público não se ofende, antes pelo contrário – em 2019, foi o segundo título mais visto da Netflix. E mesmo sabendo que After Life não pode ter um final feliz, porque Lisa não pode ressuscitar, a audiência não debanda. Aliás, espera-se que regresse em peso nesta sexta, 24, agora que o mundo inteiro está confinado às paredes de casa.
Diz que na segunda temporada, com apenas seis episódios, a personagem, que assenta em Ricky Gervais como uma luva, tenta ser um amigo melhor para os que o rodeiam, mas temos dúvidas de que isso vá acontecer – ou a série perderia a essência e, sobretudo, a graça. A depressão de Tony tem de continuar para dar lastro aos seus comportamentos incompreensíveis por quem não sente a sua dor. No entanto, é sabido que aumenta a ameaça do encerramento do jornal onde Tony trabalha, apenas porque o diretor, seu cunhado, o segura com todas as pinças, e isso fará disparar a tensão em Tambury, a terriola inglesa ficcional em que se passa a ação.
E mais não dizemos, porque queremos que vá a correr para o sofá, sorver os episódios de uma só vez, num dia mais aborrecido. Ou, se preferir, tome-os em doses diárias, prolongando o prazer por uma semana. Tudo depende da forma como estamos na vida… ou o que queremos fazer depois dela.
After Life > Estreia 24 abr, sex > Netflix