Vamos pôr-nos no lugar do outro. Imagine o leitor que já tem uma certa idade, está, há 15 anos, à espera de uma ação de despejo e quer ir morrer a casa, mas não pode. Pense no que lhe aconteceria se fosse despedido, ficasse sem nada e, ainda por cima, tivesse sido mal defendido pelo advogado. Como será ser o preso mais antigo de Portugal, no cárcere há 34 anos seguidos, sem nunca ter tido uma saída precária? Ou ser condenado a 12 anos de prisão por um homicídio que diz não ter cometido, e que outro assumiu em duas cartas-confissão que foram ignoradas pela Justiça?
Estes são apenas quatro dos oito casos que Vidas Suspensas, o novo programa da SIC, revelará a partir de segunda-feira, 27. Habituada a investigar as omissões da justiça portuguesa, Sofia Pinto Coelho diz à VISÃO Se7e que se concentrou em “situações diferentes”, “sem julgar nem dar razão”, para não nos esquecermos que há um milhão de processos judiciais pendentes nos tribunais portugueses, o que faz com que “a vida dessas pessoas não ate nem desate”. Já em 2012, em Condenados, o foco era o erro judicial, e um ano depois, em A Prova, o figurino consistia em mostrar como a prova pode suscitar dúvida.
Agora, neste Vidas Suspensas, contam-se “histórias de pessoas cujas vidas foram atravessadas pela Justiça de alguma forma, seja pela vertente dos processos cíveis ou dos criminais”, explica a jornalista. Sem traçar um retrato negativo da Justiça portuguesa, Sofia também encontrou bons exemplos. Numa peça sobre alienação parental, foi conhecer um juiz que “deu um pontapé na burocracia”, “em vez de se deixar dominar pelo peso do formalismo”: notifica as pessoas por Facebook, faz conferências entre pais por Messenger e telefona quando as notificações vêm devolvidas. Faz a diferença na vida das pessoas.
Recentemente, a jornalista Sofia Pinto Coelho também publicou o livro Condenados: A Justiça Também Pode Errar (Esfera dos Livros), no qual reúne dez histórias em que o sistema falhou.
Vidas Suspensas > estreia 27 mar, seg 21h