“Vejam lá se conseguem adivinhar o cheiro desta camélia?”, pede-nos António Assunção, 66 anos, pegando numa pequena flor branca. O aroma que a planta emana é-nos familiar, mas não conseguimos identificar. “Parecem os rebuçados Dr. Bayard, não acham? Cheira a anis”, atira, soltando uma gargalhada efusiva de quem sabe ser difícil a leigos como nós acertar na resposta. António explica tratar-se da camélia Grijsii Zhenzhucha, “uma espécie selvagem nativa que normalmente tem odor”. E continua: “Ali está uma Taliensis, aquela do chá verde diário tomado pelos chineses, por isso é que eles têm a barriga lisa [risos].”

Numa visita guiada pelo Camélias Park Flavius, em São Torcato, perto de Guimarães, com mais de 1500 espécies de camélias que António Assunção começou a plantar em 2006, é difícil memorizar todos os nomes. Mas, percorrendo este terreno com sete mil metros quadrados junto ao rio Selho, são as cores, os tamanhos e os cheiros que nos ficam na memória. Além da paixão deste homem pela planta originária do Japão com raízes em Portugal desde os Descobrimentos. “Toda esta mancha do lado direito é japónica, pequena e mais comum no nosso país, do outro lado é a chamada reticulata com flores muito grandes que podem atingir os 32 cm de diâmetro”, vai apontando o ex-funcionário da indústria têxtil, natural de Favaios, Alijó (daí ter atribuído o nome Flavius ao viveiro).
“Este património é nosso”
A paixão de António Assunção pelas camélias começou há 30 anos no jardim da sua casa, em Guimarães. Fez centenas de pesquisas, trocas e intercâmbio com outros apaixonados de todo o mundo – do Japão à China e Vietname, da Europa ao Brasil –, e hoje o colecionador conhece os nomes, as formas da flor e o formato das folhas de cada uma delas. Até já tem 20 camélias patenteadas, criadas a partir da sementeira e enxertia: a António Assunção (o seu nome), a Emília Cardoso (o da sua mulher), a Joana Andersen, a Armando Oliveira… até à mais recente, a Lady Laura, a sua neta com 16 meses. “É uma forma de homenagear as pessoas de quem gosto”, justifica.
Neste viveiro com flores de todas as cores, aberto a visitas por marcação, há fileiras temáticas como as de origem portuguesa (Saloia, Jasmim, Alfredo Allen, D. Pedro V, Bela Portuense, Grão Vasco, Conde de Bonfim…), do Japão, dos parques de Sintra, e uma das maiores coleções de Chrysantha (flor amarela).
É verdade que as camélias são conhecidas como a flor de inverno, já que a sua floração atinge o apogeu entre fevereiro e março, mas pelo facto de António Assunção ter tantas espécies diferentes, o Park Flavius tem flores todo o ano, como os híbridos da azálea que florescem no verão.

Em quatro estufas (incluindo maternidade e berçário), António vai criando novas coleções a partir da enxertia de espécies. “Este é um legado português, trazido para a Europa pelos portugueses. Quero concentrar aqui este espólio para demonstrar que este património é nosso”, justifica o colecionador de São Torcato, que se tornou um botânico desta planta.
Camélias Park Flavius > R. da Charneca, São Torcato, Guimarães > visitas seg-sex por marcação (viveirosflavius@gmail.com) > grátis
Época das camélias
Exposições, visitas guiadas e workshops para celebrar a flor de inverno
XII Exposição de Camélias Sintra A mostra no Parque da Pena (com uma coleção de mais de 3858 plantas) é o culminar de um mês em que quatro quintas públicas e privadas com camélias se abriram a visitas guiadas, assinalando os 30 anos de classificação da Paisagem Cultural de Sintra pela UNESCO. Neste sábado, 22, será feito um percurso no Jardim das Camélias do Parque da Pena, com uma coleção iniciada por D. Fernando II no século XIX e que é distinguido, desde 2014, pela International Camellia Society como Jardim de Camélias de Excelência. Abegoaria do Parque da Pena > Sintra > 22-23 fev, sáb 13h-17h, dom 10h-17h > grátis, mediante bilhete de entrada Parque da Pena €10
29ª Exposição de Camélias do Porto O Parque de São Roque, onde existem mais de 200 espécies de camélias (património natural e cultural da cidade), volta a receber a mostra anual da flor em que participam 23 colecionadores e na qual será eleita a Melhor Camélia, a Melhor de Origem Portuguesa e o Melhor Arranjo Floral. Parque de São Roque, Porto > 1-2 mar, sáb 14h-19h, dom 10h-19h > grátis
XV Festival Internacional de Camélias Lousada Além do mercado de camélias, há passeios pelos jardins (Casa do Porto, Casa de Vila Verde e Casa de Ronfe), com visitas encenadas pela Jangada Teatro. Pç. das Pocinhas, Lousada > 8-10 mar, sex-sáb 15h-19h, dom 10h-19h > grátis
XX Festival Internacional das Camélias Celorico de Basto A celebrar duas décadas, e além da exposição de camélias, o festival terá um desfile de moda para a eleição da Rainha das Camélias e uma mostra fotográfica. 14-16 mar, sex-sáb > grátis
Florescer das Camélias Parque Terra Nostra Com uma coleção de mais de 800 variedades e 2 720 camélias georreferenciadas, o Parque Terra Nostra renovou o título de Jardim de Camélias de Excelência até 2034 e celebra a floração da planta durante um mês. Além da XXI Exposição de Camélias das Furnas, em Povoação (22-23 fev), organiza visitas guiadas em português (1 mar) e em inglês (15 mar), conduzidas pela engenheira agrónoma Carina Costa. Parque Terra Nostra, Furnas, São Miguel, Açores > T. 296 549 090 > 22 fev-22 mar > €12