Desde 1941 que há circo de Natal no Coliseu do Porto. Ou melhor, desde que o edifício histórico abriu as portas (foi a 19 de dezembro desse ano) que a sala de espetáculos se transforma em dezembro numa grande tenda de circo. A partir desta sexta, 13, e até 5 de janeiro, o cenário repete-se.
O presidente e diretor artístico do Coliseu do Porto, Miguel Guedes, voltou a desafiar vários autores para a conceção do circo, alguns deles estreantes num espetáculo deste género. Afonso Cruz escreveu a história, a dramaturga Ana Luena encenou-a, Carlos Tê e Pedro Vidal criaram a música, a desenhadora de luz Cárin Geada (Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II 2022, já tinha participado na edição de 2023) ficou responsável pela iluminação.
O Senhor e a Senhora Bueno (casal interpretado por Pedro Almendra e Susana Madeira) são o fio condutor da história imaginada pelo escritor Afonso Cruz. “São momentos de diálogo entre dois atores, um casal que se vai lembrando de momentos da sua vida, recordando o contacto que tiveram com o circo. É uma narrativa de memórias fragmentadas para poderem funcionar como intervalos entre os números de circo. Não é uma história linear…”, descreve o autor de A Boneca de Kokoschka ou Para Onde Vão os Guarda-Chuvas, que se estreou na escrita para circo.
O mais difícil, conta, foi agradar a um público heterogéneo. “Num circo, o público tem todas as idades, se forem crianças vão acompanhadas dos pais ou dos avós… O mais complicado é conseguir uma narrativa que não infantilize os mais adultos e, por outro lado, que não exclua as crianças”. Daí que o texto “conjugue uma parte poética com outra mais de ação”.
Carlos Tê e Pedro Vidal (guitarrista de Jorge Palma) também se estrearam na composição das músicas que acompanham o espetáculo. “Nunca esperei vir a fazer uma coisa assim. No fundo, foi arranjar canções sem letra. Tínhamos que dar o enfoque aos números. São atmosferas dentro do espírito que trago em mim porque durante anos e anos fui ao circo do Coliseu do Porto com os meus filhos”, recorda Carlos Tê, autor de várias músicas de Rui Veloso como Chico Fininho.
Para a dramaturga Ana Luena, cofundadora da Malvada Associação Artística (Évora), esta encenação foi igualmente desafiante. “No fundo, o trabalho foi interligar o texto com os números [circenses], tornando-o num único espetáculo. O grande desafio é vê-lo como um todo. A narrativa completa-se na fusão e neste cruzamento disciplinar destas duas áreas”.
São atmosferas dentro do espírito que trago em mim porque durante anos e anos fui ao circo do Coliseu com os meus filhos
Carlos Tê, um dos autores da música
Além dos sempre aguardados palhaços (protagonizados pelos portugueses Datinelli Brothers), o circo conta com vários números de acrobacia, malabarismo, equilibrismo, fitas aéreas, mastro aéreo, patins e dança do arco (hula hoop).
Entre os mais de 30 artistas que participam, estão a portuguesa Priscila Alves (dança do arco), o Duo Jordanella (Áustria e Suíça, aros), Jamie & Beata (Escócia e Polónia, patins), Mateo Sito (Argentina, mastro aéreo), o hispano-mexicano Agustín Rodriguez Beltran (fitas aéreas), Los Guerreros (Colômbia e Peru, arame e funambulismo), o duo australiano Wonderlust (trapézio), além de bailarinos do Balleteatro.
Uma coisa é certa: neste circo não haverá números com animais. Desde 2015 que estes não entram no maior espetáculo do mundo no Coliseu do Porto.
Circo Coliseu do Porto > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940 > 13 dez-5 jan > vários horários aqui > €10 a €20