O som da água diz-nos que já estamos perto da Cascata dos Pisões. Situada na Avenida Almeida Garrett, artéria movimentada do centro histórico da vila de Sintra, é por aqui que se fará, a partir deste sábado, 30, a entrada para o Palácio e Parque Biester, de agora em diante aberto para visitas. Embora esteja virada à rua, a cascata ainda faz parte da propriedade, um exemplar romântico da autoria do arquiteto José Luiz Monteiro, que serviu até de cenário ao filme A Nona Porta, de Roman Polanski, com o ator Johnny Depp. Em Sintra, o Palácio e o Parque Biester eram os únicos do género que não eram visitáveis. “Tínhamos muitas solicitações, tanto de turistas estrangeiros como de portugueses. Percebemos que fazia sentido mostrá-lo ao público, faz parte do espírito romântico da vila”, diz Vanessa do Carmo, responsável de comunicação e a nossa guia.
A visita é livre, sem horários a cumprir, a não ser o de abertura e de fecho. E ainda bem, porque é preciso tempo para apreciar este parque e palácio, com pontos de passagem obrigatória e recantos que se vão descobrindo ao longo do caminho, percorrido de olhos bem abertos e muitas vezes a olhar para cima, para as copas altas das árvores. Daqui, em vários momentos, veem-se quase todos os ex-líbris da paisagem sintrense: Castelo dos Mouros, Vila Sassetti, Palácio Nacional da Pena, Palácio Nacional de Sintra e até a Quinta da Regaleira, cujos extremos se tocam a determinada altura. O ponto alto é a chegada ao Palácio Biester, a fazer lembrar um castelo de conto de fadas, que foi residência de Frederico Biester e Amélia de Freitas Chamiço Biester, mandatários desta construção dos finais do século XIX.
Camélias e “boiseries”
No Parque, desenhado pelo paisagista francês François Nogré, encontram-se espécies arbóreas vindas dos quatro cantos do mundo. Da coleção de camélias aos fetos australianos, passando por nogueiras do Japão e exemplares de liquidâmbar, há 15 assinaladas com placas identificadoras neste conjunto natural exuberante e em constante transformação ao longo de todo o ano. A beleza do jardim deve-se ao génio de Nogré que o desenvolveu em pequenos patamares, aproveitando a linha de água que percorre toda a propriedade e que deu origem ao tanque das faias e ao dos plátanos, ao lago dos fetos australianos (próximo do palácio), à cascata das camélias e à cascata dos plátanos, lugares dispersos que se vão descobrindo ao longo dos seis quilómetros de caminhos. A implantação numa encosta da serra de Sintra favoreceu o aparecimento de miradouros naturais, como o das Descobertas, o mais alto e com vista panorâmica – só igualável pela vista que se tem a partir das janelas do palácio, mas já lá vamos. Em breve, no Parque, há de estar a funcionar a Casa de Chá, até lá aproveitem-se as esplanadas (há uma dentro de uma das estufas), o parque de merendas e os bancos de alvenaria decorados com azulejos Bordallo Pinheiro, para fazer uma pausa.
O Palácio Biester, uma confluência de estilos artísticos, do barroco inglês ao neogótico, surge no ponto mais alto da propriedade. “Estava em bom estado de conservação, foi só adaptá-lo às visitas e fazer pequenas intervenções”, diz Vanessa, enquanto calçamos a proteção para os sapatos, de forma a preservar a alcatifa do hall e de quase todo o percurso interior.
Os pormenores decorativos da casa são, por si só, verdadeiras obras de arte. Impressionam as paredes adornadas com pinturas naturalistas da autoria do arquiteto e cenógrafo italiano Luigi Manini (responsável pela vizinha Quinta da Regaleira), a quem foi entregue o trabalho de interiores. O mesmo é dizer das belíssimas boiseries em madeira do mestre entalhador Leandro de Sousa Braga, sobretudo na sala de estar, onde se destaca uma das duas lareiras da casa, adornadas com azulejos de Bordallo Pinheiro. A visita é feita sem entrar nas salas, à exceção do vestíbulo do quarto principal, no primeiro andar, onde se encontra uma janela de forma semicircular com vista para o Palácio Nacional de Sintra. Sem querer revelar todos os detalhes e curiosidades, destacamos ainda o elevador, “máquina” rara à época numa residência, a capela e câmara iniciática, uma divisão em pedra ligada à iniciação religiosa e que faz parte do misticismo do lugar – ou não estivéssemos nós em Sintra.
Palácio e Parque Biester > Av. Almeida Garrett, 1A, Sintra > T. 21 870 8800 > 10h-20h (abr-out), 10h-18h30 (nov-mar) > €11, €6 (6-12 anos, 66-79 anos), até 5 anos grátis
De passeio
Outros jardins e residências reais
1. Palácio Nacional da Ajuda
Enquanto não se inaugura o Museu do Tesouro Real, percorram-se outros espaços do palácio, como os aposentos reais, a Sala de Música e a Sala dos Grandes Jantares. Duas aquisições recentes – um serviço de 157 peças de cristal pertencente à rainha D. Maria Pia e um retrato de D. Amélia de Leuchtenberg, pintado por Karl Stieler, vão ser expostos pela primeira vez a 14 de maio, Dia Internacional dos Museus.
2. Palácio Nacional e Jardins de Queluz
Mandado construir em 1747, pelo futuro rei D. Pedro III, neste palácio de inspiração barroca e neoclássica, há muito para visitar: os jardins com cascatas e jogos de água, o jardim botânico, com mais de 200 espécies, a Biblioteca de Arte Equestre, única no País, a Sala do Trono e a Sala dos Embaixadores.
3. Palácio Fronteira
Neste edifício do século XVII, ainda habitado pelos descendentes do 1º Marquês de Fronteira, visita-se o palácio, por marcação e com guia, e os seus jardins em visitas livres durante o dia ou ao cair da noite, numa série de passeios sempre às sextas-feiras até junho, das 20h30 às 22h30.