É preciso entrar na aldeia de Palaçoulo, em Miranda do Douro, para, depois de alguns quilómetros em terra batida, encontrar o Mosteiro Trapista de Santa Maria Mãe da Igreja que, desde novembro passado, acolhe dez monjas italianas. A irmã Giusy Maffini, 57 anos, recebe-nos no exterior da Casa de Acolhimento, aberta a hóspedes. Neste lugar longe de tudo, onde nada existia, há de ligar ao mosteiro, obra maior no cimo da colina, cujas obras devem estar concluídas dentro de dois a três anos.
Inspirado nas construções da Ordem de Cister, em que os mosteiros eram implementados “em zonas onde houvesse água, madeira e pedra ou inertes”, o edifício terá como objetivo principal “responder à necessidade de acolher esta vocação”, explicar-nos-á o arquiteto Pedro Salinas Calado. “A riqueza aqui são as monjas. Se o projeto de arquitetura não se destacar para poder sobressair a vida delas, então está conseguido.”
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A madre Giusy é uma das dez monjas trapistas que deixaram Vitorchiano, próximo de Roma, para viverem em clausura, em Palaçoulo. “Dentro da nossa ordem [Cisterciense], havia o desejo de voltar a ter uma presença em Portugal”, diz, num português fluente, resultado das aulas que todas tiveram ao longo de um ano, ainda em Itália. “O lugar é ideal para a nossa forma de vida, os Cistercienses sempre procuraram lugares desertos, isolados, onde pudessem desenvolver o dia a dia com mais liberdade, sem o condicionamento da cidade.” O terreno com 28 hectares, onde se instalou esta comunidade religiosa, surgiu do emparcelamento de terras – umas doadas, outras adquiridas –, em estreita ligação com a Diocese Bragança-Miranda e o Mosteiro de Vitorchiano.
Paz e sossego
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Revestida a pedra de xisto da região, a Casa de Acolhimento tem 22 quartos de decoração modesta (casa de banho privativa), com janelas viradas para a colina e capacidade para 40 pessoas. Por agora, só quatro se encontram disponíveis para hóspedes, uma vez que as monjas ocuparão os restantes até à construção do mosteiro. “Aqui podem ficar pessoas que queiram partilhar um tempo de retiro connosco”, continua a madre Giusy, enquanto nos dá a provar os doces, cuja venda contribuirá para o sustento desta comunidade religiosa.
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Há amaretti, torrones tenros, pãozinho do peregrino, amêndoas cobertas, trancinhas e telhas (desde €4/caixa), feitos a partir de receitas italianas mas já com alguns ingredientes locais “como a amêndoa transmontana”, sublinha a irmã Anunciada, 58 anos, a doceira. Quem aqui pernoite (não há tarifa de dormida, o hóspede contribui com o valor que quiser) terá direito a refeições confecionadas pelas próprias monjas. Sem ementa fixa, o prato do dia pode variar entre massas frescas italianas, peixe e legumes (só não terá carne).
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O dia das dez monjas trapistas italianas começa bem cedo, com as primeiras orações às três e meia da manhã. Entre as sete vigílias diárias (a algumas das quais se pode assistir na capela), trabalham durante cinco horas na hospedaria, na cozinha e na agricultura de autoconsumo – caso da horta e do amendoal, onde já se veem as primeiras folhas a despontar, próximo das cinco colmeias acabadas de chegar de Vimioso de onde hão de retirar o mel.
Além dos doces, também o fabrico de acessórios para venda ocupa os dias das monjas. Fomos encontrar a madre Augusta, 84 anos, a mais velha da comunidade, entre fios e missangas, a fazer pulseiras e terços com minúcia. Monja de clausura desde os 22 anos, e depois de ter vivido em Itália, Espanha e nos Camarões, olha agora as terras transmontanas pela janela: “A paisagem é magnifica. Gosto da solidão. Aqui encontrei o silêncio absoluto.”
Mosteiro Trapista de Santa Maria Mãe da Igreja > Palaçoulo, Lugar do Alacão, Miranda do Douro > T. 91 068 1417 > mosteirotrapistamaeigreja@gmail.com
Dormir no Mosteiro: Três outros lugares com hospedaria para desligar
1. Mosteiro de Santa Escolástica, Santo Tirso
A Hospedaria das Monjas Beneditinas da Rainha dos Apóstolos, com 20 quartos (cada qual com o nome de um santo), é exclusiva a mulheres. O mosteiro, um projeto de Raul Lino (1937), em Roriz, está rodeado de árvores de fruto, jardins e hortas. Na loja, comprem-se as famosas bolachas de manteiga (€7,50, caixa sortido meio quilo) e o bolo de mel (€4,50), confecionados pelas monjas. R. do Mosteiro, 2, Roriz, Santo Tirso > T. 252 941 232 > €40/pessoa, com pensão completa > Loja: seg-sex 9h-13h, 14h-18h, sáb-dom 10h-12h, 14h30-17h
2. Convento de Balsamão, Macedo de Cavaleiros
Situado no cimo de um monte, em Chacim, Macedo de Cavaleiros, o convento da Congregação dos Marianos da Imaculada Conceição dispõe de 37 quartos e de acesso ao refeitório. A Igreja de Nª Senhora de Balsamão inclui obras do pintor Bustamante Sá, nomeadamente no teto. No museu, uma riquíssima coleção de ex-votos, 16 telas de António Joaquim Padrão, paramentos e objetos de culto merecem uma visita. Balsamão, Chacim, Macedo de Cavaleiros > T. 278 468 010 > €35 (individual), €65 (duplo), com pequeno-almoço
3. Mosteiro de Santa Clara, Leiria
A hospedaria, gerida pelas irmãs Clarissas, contígua ao mosteiro inaugurado em 1972, conta com 24 quartos, dos quais quatro são individuais. Todos se encontram equipados com casa de banho privativa, aquecimento e televisão. R. de Santa Clara, Monte Real, Leiria > T. 244 612 334 > a partir de €42 (individual), €60 (casal), com pensão completa