Estamos em 1990, na Embaixada dos EUA em Lisboa. Um comunista, Carlos Paredes, e um republicano norte-americano da ala mais conservadora, o embaixador Edward Rowell, nomeado para o cargo por Ronald Reagan, confrontam-se amistosamente. O então Instituto do Comércio Externo de Portugal (ICEP) tinha tudo preparado para uma iniciativa de promoção do País em Boston, no âmbito da qual Carlos Paredes atuaria num clube de empresários. A data de partida aproximava-se e o mágico da guitarra portuguesa recusava-se, para obter o visto norte-americano, a escrever no respetivo formulário que não pertencia ao Partido Comunista Português.
Sob a pressão de o problema não se resolver, a direção do ICEP pediu a intermediação de Rowell. Sabia-se que o embaixador e Paredes tinham uma relação de respeito mútuo. O diplomata apaixonara-se à primeira audição pela música do guitarrista, e este espantara-se com o conhecimento que o embaixador tinha da nossa História e da nossa cultura. A relação consolidara-se dois anos antes, em 1988, quando Rowell convidou para jantar, na sua imponente moradia, no chique bairro lisboeta da Lapa, Paredes e Luísa Amaro, companheira musical (no acompanhamento à viola clássica) e de vida do guitarrista durante mais de 20 anos. Após o repasto, o diplomata deliciou-se com um concerto privado do músico português de que se tornara fã.
