Quem passava pela Praça do Marquês, no Porto, questionava-se sobre o que haveria para lá do portão do Palacete Lopes Martins, que data dos anos 70 do século XIX e pertenceu à família do arquiteto José Marques da Silva. Ou ainda sobre a casa ao lado, que foi morada e atelier do arquiteto responsável por alguns dos edifícios mais emblemáticos do Porto, como a Estação de São Bento, o Teatro Nacional São João ou a Casa de Serralves.
No dia 17 de outubro, abriram-se finalmente as portas tanto do Palacete como da Casa-Atelier (1909), pertencentes à Fundação Marques da Silva, que, além do espólio do arquiteto, guarda o acervo de outros 20, como Fernando Távora, José Carlos Loureiro, Alcino Soutinho, Arménio Losa, Hestnes Ferreira, Manuel Graça Dias e Alexandre Alves Costa. “É o maior arquivo privado de arquitetura do País”, garante Fátima Vieira, vice-reitora da Universidade do Porto e presidente da fundação.
Siza Vieira desenhou o projeto para o novo Centro de Documentação, nos jardins da Fundação Marques da Silva, que irá acolher ainda o arquivo da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
Nos dois pisos do Palacete – tetos em estuque, pinturas decorativas nas paredes, chão de madeira –, percorre-se o universo dos arquitetos para lá dos desenhos e das maquetes. Em Mais que Arquitetura, desvendam-se exercícios escolares, fotografias, correspondência, livros, viagens – como a de Fernando Távora aos Estados Unidos da América e Japão (1960), ou a de Siza Vieira a Marrocos, com Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez (1967) –, coleções de arte popular e literatura modernista, mobiliário, resultantes do “confronto com a multiplicidade do acervo”, explica o curador Luís Urbano.
Já na Casa-Atelier, em Siza – Inédito e Desconhecido, revela-se o legado pessoal e profissional “do último dos modernistas” do século XXI através de uma centena de desenhos do arquivo de Siza Vieira, com inéditos da família. A mostra, exibida em 2019, na Tchoban Foundation, em Berlim, inclui ainda esculturas e livros. A Fundação Marques da Silva será o lugar da “democratização de conhecimento sobre o que é a arquitetura”, resume Fátima Vieira.
Fundação Marques da Silva > Pç. do Marquês de Pombal, 30, Porto > T. 22 551 8557 > seg-sáb 14h-18h > €3, €1,50 (estudantes, mais de 65 anos)