Quem vai a Roma quer ver o Papa, quem vai a Paris passa pela Torre Eiffel… e quem vai ao Porto e a Vila Nova de Gaia, visita o World of Wine (WOW)? Este é o objetivo de Adrian Bridge, o CEO da The Fladgate Partnership, o grupo detentor de marcas de vinho do Porto como a Taylor’s, Fonseca e Croft e de hotéis como o The Yeatman, Infante de Sagres e Vintage House. “Quando lançámos o The Yeatman, há dez anos, ninguém acreditava no projeto e foi um sucesso”, recorda, convencido de que algo semelhante acontecerá com o WOW, a sigla chamativa com que abreviaram este novo desafio.
A reconversão dos antigos armazéns de vinho do Porto pertencentes ao grupo, a ocupar uma mancha considerável da encosta do centro histórico de Vila Nova de Gaia, quis respeitar a traça arquitetónica. Mas, ao percorrermos o labirinto de acessos e de edifícios, é inevitável a sensação de se estar dentro de uma nova cidade. É um gigantesco projeto – 105 milhões de investimento direto, a juntar aos 25 milhões necessários para a construção de outros armazéns, no Douro –, com 55 mil metros quadrados de área total, sem entraves à circulação de pessoas, uma vez que as ruas têm ligação direta à restante zona ribeirinha. Exatamente por isso, mais do que um complexo cultural e turístico, gostam de falar de um quarteirão.

Quando o WOW foi anunciado, os críticos falaram de uma “Disneylândia do vinho”, que iria descaracterizar a zona do antigo Entreposto de Vila Nova de Gaia, o local onde todas as empresas ligadas ao comércio do vinho do Porto eram obrigadas a manter os seus armazéns de envelhecimento, para controlar adulterações e falsificações. “Quem fez essas afirmações, não conhecia o projeto, estava com medo de que construíssemos algo que destruísse a zona histórica e não é fácil convencer alguém com ideias feitas. A única maneira de convencer é mostrar a obra concluída. Entre o antes e o depois, a única diferença é a praça central, que era necessária por questões de segurança, porque as ruas são muito estreitas. De resto, está igual ou melhor”, defende Adrian Bridge.
A expectativa, adianta, é a de “prolongar a estadia no Porto com a oferta de mais conteúdos, estimular o investimento e servir de catalisador da região, ao chamar a atenção para o que de melhor se faz no Norte de Portugal”. Para a primeira fase de abertura, desde o dia 31 de julho, estão disponíveis cinco museus (a visita de cada um dura cerca de duas horas), assim como bares, restaurantes e lojas. Os bilhetes são apenas necessários para os museus (há pacotes de dois, visitáveis em 48 horas), para as atividades na escola de vinho, para as exposições temporárias e outras iniciativas.

CASTAS E COPOS COM HISTÓRIA
No edifício de maior dimensão, o PRATA – Porto Region Across the Ages, recorre-se à História para dar a conhecer o carácter da cidade e das suas gentes, descritos como “um concentrado de vigor e energia, de afabilidade e desembaraço”. Episódios como os Descobrimentos, as Invasões Francesas, a Guerra Civil entre liberais e absolutistas ou a Revolução Industrial, são relatados de forma concisa e lúdica, com recurso, em alguns pontos, às novas tecnologias – por exemplo, video mapping ou vídeos das melhores atrações exibidos na réplica de um elétrico. “Esta visita é uma forma de contextualizar a cidade, as pessoas descobrem diferentes camadas e ficam com um melhor entendimento do que é o Porto”, defende Adrian Bridge. Um bom ponto de partida para conhecer o seu património histórico e cultural.

Já no Wine Experience, além de informações descomplicadas sobre o solo, o clima ou as castas portuguesas, fala-se sobre os diferentes vinhos portugueses, de norte a sul, sem esquecer as ilhas, numa rua formada por casas típicas de cada região vitivinícola. “Quisemos expandir a oferta e não nos focamos no vinho do Porto, porque aqui à volta há 17 centros de visita com a mesma temática. Seria redundante. O Porto é a capital do vinho e a uma hora daqui temos o Minho, o Douro, o Dão, a Bairrada, regiões importantes e muito diferenciadas”, sublinha Adrian Bridge.

De seguida, saltamos para um museu que é especial para o empresário, o The Bridge Collection, no qual estão expostos copos e taças de vinho da sua coleção privada de 1 800 peças. “Comecei há cerca de 15 anos… O colecionismo é uma doença”, brinca. Das primeiras civilizações à Grécia Antiga, do Império Romano à Europa Medieval e Renascentista, são vários os exemplares valiosos. “Gosto de copos com história, que nos falam da sua época”, conta Adrian. “E são peças com vida, é curioso pensar em quem as fez e usou.” Um copo erguido por Alexandre, o Grande, outro usado para brindar a vitória da Batalha de Waterloo e ainda outro em marfim, pertencente ao rei Carlos II de Inglaterra, ajudam a conhecer um pouco da História mundial. E também dos rituais associados à bebida ao longo dos tempos, como as homenagens ao deus Baco ou a oferta votiva em funerais.

Com abertura prevista para 8 de agosto, está o Planet Cork, dedicado à cortiça, de que Portugal é o maior produtor mundial, construído em parceria com a Corticeira Amorim. À volta da réplica de um enorme sobreiro, fala-se da sua exploração e das variadíssimas aplicações.
Para daqui a uns meses, ficará a inauguração das salas de eventos e de exposições temporárias, da Escola de Vinho, com cursos para todos os graus de interesse e de conhecimento, assim como do Porto Fashion & Fabric Museum (o museu da moda e do têxtil), numa homenagem às indústrias mais fortes da Região do Norte. Instalado num edifício do séc. XVIII, inclui uma capela assinada pelo arquiteto Nicolau Nasoni, cujos frescos foram recuperados.
Uma praça onde cabe o mundo
A um nível mais baixo da encosta, fica a The Chocolate Story, onde se exploram as particularidades do cacau, as diferenças dos locais de origem, os processos de fabricação do chocolate e as ligações às mais antigas civilizações da América Central. “É um mundo complexo, com muito para aprender e explorar… Os mestres chocolateiros são como os enólogos de há uns anos”, acredita Adrian Bridge. Ali, terão a sua própria fábrica, com os visitantes a poderem acompanhar toda a produção ao vivo. No final, no Vinte Vinte Café, poderão dar largas à gula e provar os chocolates.
Falemos então da restante oferta ao nível da restauração, concentrada à volta da enorme praça central, com propostas para todos os gostos e bolsos. O fine dining e a alta gastronomia estarão representados no 1828 (uma referência ao início da Guerra Civil portuguesa e às adversidades passadas pelos portuenses) e no Mira Mira (abre em outubro). Haverá também um vegetariano, o Root & Vine; um restaurante de peixe, o The Golden Catch; outro dedicado à gastronomia portuguesa, o V.P.; uma casa de sobremesas que combina a doçaria nacional com a pastelaria francesa, de nome Suspiro; um grab & go com propostas ligeiras, o Lemon Plaza e, como não podia deixar de ser, um bar vínico, o Angel’s Share Wine Bar, com mais de 50 referências para beber à garrafa ou a copo. Com uma vista superlativa da Ribeira do Porto e do rio Douro, a recordar-nos a razão de ser deste projeto. “Temos tantas coisas para oferecer na nossa cidade e nem sempre sabemos apreciá-las”, conclui Adrian Bridge.

WOW > R. do Choupelo, 39, Vila Nova de Gaia > T. 22 012 1200 > museus: seg-sex 12h-20h30, sáb-dom 10h-20h30 > €15, dois museus €23 (48h para visitar) > restaurantes: seg-dom 12h-23h (à exceção do 1828: seg-sex 19h-23h, sáb-dom 12h-23h)