A vida não tem sido fácil para a Kiss, a discoteca mais antiga do Algarve. Fundada em 1981, em Albufeira, tem visto os seus clientes assediados pelas outras, mais novas, mas é sobretudo a conveniência dos bares com horários alargados que traz a maior ameaça. Ainda assim, está viva e recomenda-se: “Atendendo à sazonalidade no Algarve e ao horário de fecho dos bares, diria que o que nos diferencia é ainda conseguirmos trabalhar três meses por ano, ao passo que a maioria das discotecas só trabalha um mês”, ironiza o empresário Liberto Mealha. Hoje, é o seu filho, Carlo, quem lidera o projeto, remodelado no ano passado. Às sextas, domina o reggaeton com djs espanhóis e, aos domingos, as duas pistas são inundadas por temas trazidos por djs holandeses. Com capacidade para cerca de mil pessoas, o Kiss Club é um dos “trintões” do verão algarvio.
A mesma idade tem o bar Columbus, nas arcadas de um edifício com mais de 500 anos, perto das Docas, em Faro. Um convite para quem gosta de testar novas bebidas. Miguel Gião, o irmão Ricardo e o pai José são os rostos deste bar que já entrou no Top 10 da revista Forbes, a par de outros em Nova Iorque e Paris. O que o diferencia? “Temos um menu com 40 páginas em formato de jornal, porque queremos dar atenção ao cliente, como se fosse nosso pai, namorada ou filho”, explica Miguel. Os produtos frescos e o acompanhamento das novas tendências são traços da identidade do Columbus. A comida é simples: snacks, tostas e tapas. Já as bebidas são complexas e muitas delas reinterpretações de “clássicos”, como a Marajoca, inspirada no Mojito, com vodka, maracujá, lima e manjericão, ou ainda o Royal Blood, à base de vermute e servido com espuma de tarte de limão, queimada com um maçarico.
Em Vilamoura, o Patacas Bar é um dos ícones que garante um bom aquecimento para as noites mais longas. Filipe Silva, ou melhor, o Pataquinhas, tem agora as rédeas do estabelecimento, passadas pelo pai Carlos. O Patacas faz 30 anos em setembro e, na forma e no conteúdo, mantém o traço original. “É um bar familiar que serve de ponto de encontro ao início da noite, para os jovens e menos jovens à procura de um café e de uma conversa. Por isso, a música é de todos os estilos e serve de ambiente”, descreve Filipe. Aberto todo o ano, disponibiliza na garrafeira de gins mais de 50 marcas diferentes. Quanto à comida, o Prego no Pão é um clássico.
Voltamos a Albufeira, à hora de strip. Na strip (isto é, na faixa) de bares de Albufeira, resiste o Liberto’s. Tal como a Kiss, é um dos sítios mais antigos da noite (abriu em 1986). O segredo? A seleção de clientes, garante Liberto Mealha. A música convida a dançar, sempre comercial exceto às sextas, dia em que chega o afro-beat. O dj residente é Micas e durante a semana há bandas ao vivo. Detrás do balcão, o barman Vitó traz-nos o cocktail Bang Bang, propenso à partilha por ter um litro.
Até ao fim do mundo
Mais para oeste, em Lagos, há quem rivalize na arte de bem fazer bebidas. As portas do Bon Vivant abrem-se a quatro ambientes diferentes: da cave ao rés do chão, do 1º andar ao terraço de um edifício histórico da zona antiga da cidade. “O bar de entrada é mais clássico, passamos jazz ao início da noite e, depois, vai-se transformando. A cave é dance floor, virada mais para os jovens e só abre em julho e agosto”, diz Marco Oliveira, o barman premiado e esforçado que chegou por mais de uma vez à final do World Class Barman. Do rés do chão, onde reinam as bebidas mais rápidas de preparar, passamos ao México, com tequilas célebres como a Don Julio sujeitas à criatividade de Marco: “Servimos, por exemplo, a Margarita Atotonilu, com sal apimentado e extrato de fumo que lhe dá um sabor muito diferente, ou ainda o cocktail 5 de Maio, Dia do México, que leva xarope de jalapeños, sumo de tomate, morango e tequila.” Quando tem tempo, sobretudo no inverno, prepara as especialidades que melhor sabe fazer, contando as estórias por detrás dos ingredientes. O bar, que funciona todo o ano, abriu em 1987.
O Outro Bar, virado para a Praia da Rocha, em Portimão, também alinha pelo mesmo calendário. Aberto o ano inteiro, aposta em música variada, do reggaeton ao house. Aos comandos está Salvador Varela, o Dj Boss, que toca sempre com uma bela vista. “Entre nós e o mar, só a areia da praia”, afirma. A carta de caipirinhas, mojitos e daiquiris (€4 a €5) é ponto de atração por aqui. “Há 19 anos que funcionamos em pleno, com altos e baixos apesar da abertura de outros bares. Hoje já vêm também os filhos e os sobrinhos, são várias gerações”, diz.
De carro chega-se ao Dromedário, um bar em Sagres. Andreas Bergmann recebe-nos com um sorriso. O alemão veio de férias em 1984 e conheceu uma portuguesa, depois viu Sagres, apaixonou-se e ficou. No ano seguinte, avançou: “Era a tasca do velho Borba, vendia lixívia, anzóis e medronho. Paguei cinco contos pela primeira renda”, recorda. Sagres ainda era mais no fim do mundo do que é hoje, mas já havia turistas, de mochila às costas. Vinham da Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra, México e África do Sul. Andreas costumava dizer: “Não precisamos de viajar. O mundo vem até nós.” As novas escolas de surf trouxeram parte desse ambiente. Na ementa, juntam-se os “craft burgers”, hambúrgueres artesanais, alguns deles vegan, aos produtos locais como o queijo de cabra e doce de figo. Serve perto de 50 cocktails, mas há um que destaca: o “Pineapple Express”, uma mistura de quatro runs aromáticos, sumo de ananás natural, sumo de limão e açúcar. É fácil tornarmo-nos fãs, do cocktail e do bar, “pintado” com animação pelos barmen, quase todos treinados no flair, o malabarismo com copos e garrafas. “Acho que é isso que faz a diferença, ainda que pareça um cliché. Gostamos mesmo disto. É muito mais do que ganhar dinheiro, é um modo de vida”, confessa o dono do único Dromedário que vive há mais de 30 anos no ponto mais sudoeste da Europa.
Discoteca Kiss > R. Vasco da Gama Edifício Kiss, Albufeira > T. 289 515 693 > €15,00 (entrada) e €20,00 (com direito a uma bebida) > abre julho, agosto e setembro
Liberto’s Bar > Tv. Antero de Quental, 59, Albufeira > T. 91 170 0999 > €7,50 ou €10,00 com direito a uma bebida (consumo mínimo) > aberto todo o ano
Bon Vivant > R. 25 de Abril, 105, Lagos > T. 93 571 8305 > €6 (Mai-Tai), €5 (Expresso Martini)
Outro Bar > R. António Feu – Praia da Rocha > T. 92 443 3927 > entrada livre > €4,00 a €5,00 (Caipirinhas e Mojitos)
Columbus Bar > Pç. Dom Francisco Gomes, 13, Faro > T. 91 777 6222 > entrada livre > €7,50 (Marajoca), €7,50 (Royal Blood)
Patacas Bar > Lg. Soares da Costa – Edif. Cruzeiro do Sul, Lj. A – 2, Vilamoura > T. 289 314 247 > €5 (Prego no Pão)
Bar Dromedário > Av. Comandante Matoso, Sagres > T. 282 624 219 > entrada livre > €7,50 (Pineapple Express), €10 (hambúrguer carne borrego e vaca)