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A Travessa da Rua D’Agôa, que tem servido sobretudo de estacionamento, transformou-se numa praça comunitária
Rui Soares
É preciso alguma ginástica, mas vale a pena escalar aquela estrutura de madeira e instalarmo-nos num dos bancos para ver, lá de cima, a Travessa da Rua D’Agôa. Do lado oposto desta viela de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, está uma outra estrutura de madeira, ainda maior, onde se sentam, curiosas, algumas pessoas que ali passam. A instalação foi construída pelo coletivo de arquitetos italianos Orizzontale, durante o Festival Walk & Talk, que decorreu na segunda quinzena de julho e que levou à ilha dezenas de criadores de várias áreas artísticas. Numa das pontas da travessa, uma entrada grande, na outra, uma entrada mais pequena, e no meio, um espaço vazio, como um pátio à espera de reuniões.
Vítor Marques, um dos proprietários da Miolo – Livraria, Galeria e Editora, inaugurada no final do ano passado, não esconde o entusiasmo. É ele, juntamente com Mário Roberto, seu sócio, um dos principais dinamizadores do projeto O Quarteirão, um novo e dinâmico “bairro” em Ponta Delgada. A norte da zona mais comercial da cidade – delimitada pelas ruas Machado dos Santos e Guilherme Poças Falcão e com o seu núcleo na Rua Carvalho Araújo, Rua Pedro Homem e Rua d’Água – funcionam ateliers de arquitetos e de designers, restaurantes, galerias, lojas, um estúdio de ioga, uma mercearia, cafés e hotéis. E agora, juntos, acreditam ser mais fortes. São já 25, os membros de O Quarteirão e hoje é impossível pensar na cidade sem incluir estas ruas. Ponta Delgada está a mudar e essa mudança passa obrigatoriamente pel’O Quarteirão. “Queremos atrair pessoas para esta zona da cidade, e precisávamos de um espaço que fosse público”, diz Vítor Marques. “Temos agora uma praça comunitária com um enorme potencial. As pessoas podem fazer ali o que quiserem, porque aquele espaço é delas. Podem ir jogar sueca ou fazer um jantar de família, por exemplo”, acrescenta.
![WT2016_Holidays in the Museum_18_Photo_Rui Soares.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/9496146WT2016_Holidays-in-the-Museum_18_Photo_Rui-Soares.jpg)
Os arquitetos italianos Orizzontale criaram estruturas de madeira de criptoméria que funcionam como entradas na travessa, mas também como bancos, mesas e espaços de convívio
Rui Soares
Tem sido este o trabalho dos arquitetos italianos do Orizzontale: criam estruturas arquitetónicas permanentes e temporárias, com o objetivo de dar uma nova visão ao espaço onde intervêm e testam fórmulas e limites da arquitetura e da sua relação com a comunidade. “As pessoas disseram-nos que queriam ter um espaço de convívio onde se pudessem juntar. Aqui, não existem muitas ruas sem carros e esta travessa tem servido sobretudo de estacionamento. Quisemos criar uma espécie de jardim de inverno onde a comunidade se pudesse encontrar e também crescer”, explica Nasrin Mohiti Asli, uma das arquitetas (são sete) do Orizzontale, vinda de Roma. “Queríamos ter um design básico, por isso criámos esta grelha onde depois as pessoas que aqui estão podem fazer acrescentos”, descreve Nasrin. Com plantas, poderá nascer ali um jardim entre as traves de madeira de criptoméria, com um lençol pendurado poderá surgir uma tela de cinema. “É como se fosse um esqueleto de uma casa pronto para ser habitado”, continua.
Também através do Walk & Talk, o designer italiano Francesco Zorzi criou uma sinalética para O Quarteirão, vincando a sua identidade: composições de quatro azulejos da Cerâmica Vieira (da Lagoa, São Miguel), pintados com cores de acordo com o ramo de negócio e colocados à porta das lojas, galerias, cafés ou hotéis. São também dele os dois espelhos redondos instalados na entrada mais estreita da Travessa da Rua D’Agôa, que se refletem um ao outro e também a quem passa: num deles, os vários símbolos coloridos que estarão à entrada dos negócios de O Quarteirão, no outro, as nove ilhas açorianas. E há ainda um outro, com as letras que compõem as palavras de O Quarteirão a precisarem de ser ligadas por quem para ele olha. Afinal, é de ligações que aqui falamos. Num bairro, numa cidade, numa ilha de um arquipélago no meio do Atlântico.
Até 24 de agosto, a Galeria Fonseca Macedo (R. Guilherme Poças Falcão, 21) expõe Aviatrix, de Susana Mendes Silva, uma instalação baseada na aventura aeronáutica da norte-americana Ruth Edler, a primeira mulher a tentar atravessar o Atlântico, cujo avião teve que ser salvo perto dos Açores, e foi recebida como heroína na ilha Terceira.