![jc chalet d edla 001.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/11/7479321jc-chalet-d-edla-001.jpg)
José Caria
A história que lhe vamos contar pode parecer retirada de um conto de fadas imaginário, mas tanto as personagens principais como o Chalet da Condessa D’Edla, localizado na zona ocidental do Parque da Pena, em Sintra, são reais. Como em qualquer outro enredo encantado, também este pode começar por “Era uma vez”… o rei D. Fernando II, ao casar pela segunda vez (após a morte da rainha D. Maria II) com a cantora de ópera de origem suíça-alemã Elise Hensler (recebeu o título de Condessa D’Edla), manda construir esta casa de recreio assim como os jardins que a envolvem. Quando se entra, seja pelo portão principal (isto se aproveitar a boleia do minibus desde o parque de estacionamento) ou pela parte lateral (se atravessar a pé), apercebemo-nos da sua estrutura simples e simétrica, em madeira, um tipo de construção invulgar em Portugal. Mas o que ao longe julgamos ser madeira é ao perto e ao toque pedra. A sua ornamentação, em cortiça, revela-se um trabalho brilhante e minucioso, que vale a pena apreciar ao pormenor. Já no interior, reparamos nas dimensões medianas da casa o que prova tratar-se de um refúgio no qual permaneciam pouco tempo onde já se revelam alguns pormenores da futura decoração: os azulejos da cozinha, a escadaria em madeira, as pinturas decorativas nas paredes. A varanda, no primeiro piso, tinha na época em que foi projetada e construída um papel importante, visto que contorna toda a casa, o que permitia uma relação visual com o Palácio Nacional da Pena, o mar, os jardins e as pedras, aspetos fundamentais do romantismo. Hoje, esses elementos parecem ter sido “apagados” da paisagem com o crescimento da vegetação em seu redor.
Chalet: a história
Para nos ajudar a conhecer melhor o Chalet da Condessa D’Edla, contámos com a ajuda do historiador Nuno Oliveira e do engenheiro Nuno Gama, este último responsável pela recuperação do jardim. É necessário recuar longos anos, mais precisamente a 1860, para que esta “história de amor” tenha início. Apesar da sua nacionalidade, Elise Hensler terá passado alguns anos nos Estados Unidos da América, e só depois chega a Portugal com o objetivo de complementar a sua formação lírica. Por isso, não é de estranhar que os dois se tenham conhecido no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. Depois do enlace, começaram a construir este abrigo de montanha (a sua construção demorou cinco anos a ser concluída, entre 1864 e 1869), inspirado segundo o modelo dos chalets alpinos (fruto das viagens que fizeram pela Europa), onde se refugiavam e descansavam. Após a morte do rei, em 1885, o Parque da Pena e as suas construções, como é o caso do Palácio da Pena e o Chalet, são deixadas por herança à Condessa D’Edla (como consequência de pressões e conflitos de interesse, renuncia em 1889 ao seu usufruto). Com a queda da Monarquia, a gestão do Palácio Nacional da Pena transita para a tutela do Ministério da Fazenda e o Parque da Pena e o Chalet para as Matas Nacionais (Ministério da Agricultura). Atualmente, a sua administração está a cargo dos Parques de Sintra Monte da Lua, SA. Depois de um longo período de abandono e de um incêndio (de origem alegadamente criminosa) que destruiu parcialmente a casa, em 1999, procedeu-se, mais tarde, em 2007, à sua recuperação. Agora que se concluíram os trabalhos da primeira fase, que compreendiam a reconstrução do edifício e dos jardins (cofinanciado pelo programa EEA Grants), as portas abrem-se aos visitantes. A segunda fase referente à parte de acabamentos e pinturas de interiores será iniciada em breve.
A descoberta de um jardim oculto
Ao renovar-se esta estrutura, tornou-se fundamental reabilitar também os jardins que se encontravam em avançado estado de degradação. Para tal, reuniu-se uma equipa técnica multidisciplinar que tinha como principais metas valorizar os aspetos históricos, ecológicos, botânicos, estéticos e funcionais. Mais do que um trabalho de limpeza, era necessário fazer-se uma rigorosa investigação histórica (ocupou cerca de dois anos e meio), assim como classificar todas as espécies da vegetação existente. Recuperar o sistema hidráulico tradicional, restaurar pavimentos, fazer novas plantações, tratar espécies doentes e instalar um sistema de rega automatizado foram outras tarefas que ocuparam esta equipa composta por arquitetos paisagistas, arqueólogos, jardineiros… e três cavalos imponentes, ágeis e dóceis, de origem belga. Nas áreas onde os tratores e as máquinas agrícolas não conseguem chegar, são estes «trabalhadores» que se ocupam da manutenção e limpeza (são treinados desde pequenos para efetuar trabalhos florestais e obedecem a ordens vocais). Estão programados passeios de charrete, dentro do parque, com estes cavalos. Um jardim cénico e sonoro, integrado nos 85 hectares do Parque da Pena, ao estilo romântico, onde não faltam as grandes pedras (repare nos «vasos» encastrados nos diversos calhaus que existem ao longo do jardim, uma simbiose entre o natural e o “artificial”), os lagos (uma das zonas mais emblemáticas é a Feiteira da Condessa, a existência de uma regueira a montante cria alguns tanques com água, povoados por fetos arbóreos, oriundos da Nova Zelândia e Austrália), os caminhos labirínticos, os recantos (se subir o caminho das Pedras do Chalet, chegará a um miradouro com vista privilegiada para o Palácio Nacional da Pena) e os bancos. Em breve vão receber novos ocupantes, cabras, ovelhas e coelhos que juntam aos morcegos que atualmente já fazem deste local a sua habitação.
Chalet da Condessa D’Edla > Chegando à Vila de Sintra seguir em direção ao Palácio Nacional da Pena; na subida existe uma placa com a indicação do Chalet (obrigatório deixar o carro no Parque do Estacionamento Tapada do Mouco) > seg-dom 9h30-19h > €14 (Palácio Nacional da Pena, chalet e parque), €10 (exterior do palácio, chalet e parque), €8 (chalet e parque)