1. Consultório Furioso
Patrícia Portela (texto) e Amanda Baeza (ilustrações)

A fúria é algo que pode ter muitas formas e nem sempre sabemos o que fazer com ela. Às vezes, é fininha, quase invisível, e está sempre lá. Outras vezes, tem altos e baixos e agrava-se por qualquer razão. Patrícia Portela escreveu um livro para fazer companhia àqueles que em algum momento se sentem furiosos – por arrufos, amuos ou irritações com os outros, com a vida, consigo próprios. Isto porque, acredita a autora, “um livro pode ser um bom ouvinte e a literatura não garante que a fúria se vá embora, mas pode oferecer-te um lugar mansinho para ela se agachar, se aceitar, ou simplesmente desvanecer-se, devagarinho, até se transformar noutro sentimento”.
Para tal, imaginou um consultório de fúrias, uma espécie de sala de estar, em que a identificação das ditas acontece através de pequenos questionários e desafios a que o leitor vai respondendo (utilizando um lápis para poder apagar e voltar a usar): “Sentes que tens de esconder a fúria, reprimir a fúria ou fingir que não sentes fúria nenhuma”; “usa os cinco sentidos para descrever uma fúria que tenhas tido recentemente” ou “tens algum destes sintomas pré-fúria?”. Ao mesmo tempo, sugere alguns truques e passa umas quantas receitas para se conseguir ultrapassar esse estado, que vão desde umas Lágrimas ao Canto do Olho, “para comer sozinho”, a uns Vasos Comestíveis, “para resolver aquela discussão que nunca mais acaba.” Amanda Baeza, ilustradora chilena que vive e trabalha em Portugal, tratou de desenhar tudo isto. I.B. APCC – Associação para a Promoção Cultural da Criança, 40 págs., €7,50
2. As Coisas Invísiveis
Andy J. Pizza (texto) e Sophie Miller (ilustrações)

A que se parece a esperança? E qual será o aspeto da gratidão? Será que o amor tem um formato redondinho e é cor de rosa? No início deste livro, os pequeninos são convidados a pôr uns óculos imaginários e com eles descobrir várias coisas invisíveis, algumas tão simples de perceber, como o latido de um cão, as gargalhadas ou um ambiente ruidoso, outras menos óbvias, como a alegria, a euforia, a neura, o medo, e outros sentimentos que moram dentro de nós – e por vezes até se manifestam em simultâneo, que confusão! É uma forma leve de falar de emoções com as crianças, através de um trabalho muito completo, que até inclui um convite à reflexão, e assinado por Andy J. Pizza, autor aclamado pela crítica norte–americana. M.C.B. Nuvem de Letras, 52 págs., €14,95
3. Quando é que a Hadda Volta?
Anne Herbauts

Anne Herbauts é uma autora belga de livros infantis, que escreve e ilustra as próprias obras, e soma mais de uma vintena de títulos publicados. Este é o primeiro a ser traduzido para português, parte integrante da coleção Orfeu Mini, da Orfeu Negro, e trata-se de um curto texto de traços poéticos sobre a questão da morte, tema que atormenta as crianças desde tenra idade. A pergunta do título é repetida a cada página – “Quando é que a Hadda volta?” – e a resposta é dada tanto a nível visual, com desenhos de uma casa habitada, onde se vê uma cozinha com uma travessa de peixes, uma mesa de jantar com lápis, tesouras, carrinhos e um jornal ou um quarto semidesarrumado, como nas respostas na voz do que se supõe ser uma avó que já partiu, e que convida a criança a encontrá-la dentro de si mesma, transmitindo-lhe ternura e segurança. “Mas eu estou aqui, meu anjo. Repara, tens a minha força e beleza.” M.C.B. Orfeu Negro, 32 págs., €15
4. Muito Serra a Serra da Estrela
António Mota (texto) e Hélder Teixeira Peleja (ilustrações)

Tente ler sem se engasgar: “Há pão de ló cá e pão de ló lá. Queres pão de ló de lá ou pão de ló de cá?”; e “Pica, pisco. Pisco, pica na pia. Na pia, pica e pia, pica e pia o pisco.”; ou “A trave torta trava a porta. Mas a porta não trava a trave torta.” Prova superada? Se há brincadeira intemporal são os trava-línguas. Fazem parte da cultura popular portuguesa e continuam a fascinar miúdos e graúdos, que os repetem até à exaustão. António Mota, um dos autores mais importantes do universo infantojuvenil, já com obra publicada no mundo das lengalengas, trava-línguas e provérbios ao longo das últimas décadas, assina este novo livro, onde soma 50 inéditos que fazem tropeçar a fala e prometem pôr a criançada a rir. Ora veja: “Se o papá Paulo papasse a papa, era um papá Paulo papão.” M.C.B. ASA, 32 págs., €12,90
5. Mais Alto!
Isabel Minhós Martins (exceto letras das músicas) e Bernardo P. Carvalho (ilustrações)

Neste livro-disco desfilam canções de José Afonso, José Mário Branco, Rita Lee, Titãs, Nuno Prata, Clã ou Luís Severo. Mais Alto! nasceu como um concerto comentado na Teatro LU.CA, em Lisboa, protagonizado por quatro músicos (Francisca Cortesão, Sérgio Nascimento, Afonso Cabral e Inês Sousa) e uma escritora (Isabel Minhós Martins), com a ideia de refletir sobre o papel da música nas mudanças sociais e políticas, em que o público é desafiado a estar atento às letras e a participar, cantando e dançando. Desde a sua primeira apresentação, em 2021, tem subido aos palcos de todo o País. A versão editada agora em livro-disco inclui uma seleção de dez canções que têm vindo a integrar o espetáculo. Nas páginas ilustradas por Bernardo P. Carvalho podem ler-se as respetivas letras e algumas das histórias que estão por detrás destas criações. I.B. Louva-a-Deus, 40 págs., €14,40 (inclui o download digital)
6. Só Porque
Matthew McConaughey

Sim, o Matthew McConaughey que assina este livro é o mesmo que conhecemos do grande ecrã. Pai de três miúdos de 15, 13 e 10 anos, tem dito em algumas entrevistas que escreveu um texto pensado para ser lido por pais e filhos em simultâneo. Porque traz uma lição importante de aprender à medida que crescemos em altura, mas também por dentro: na vida, as respostas não se dividem apenas em preto ou branco. Há zonas cinzentas, isto é, há múltiplas respostas para a mesma pergunta e há comportamentos e emoções que não são definidores de caráter. Através de pequenos axiomas como “Só porque estou a sorrir, não significa que não esteja a fingir” ou “Só porque estou a mentir, não significa que seja um aldrabão”, o autor leva-nos com sabedoria por breves episódios da infância e remata a história com uma bonita mensagem de esperança. M.C.B. Lua de Papel, 32 págs., €13,50
7. A Cada Planeta A Sua Letra
Carlos Nuno Granja (texto) e Mantraste (ilustrações)

É forte a dupla que assina uma das novidades da Livros Horizonte. Nas letras, Carlos Nuno Granja, professor há mais de duas décadas, ligado a trabalhos com bibliotecas e eventos literários; nos desenhos, Bruno Mantraste, ilustrador conhecido da nossa praça, com obra espalhada em diferentes formatos e para vários públicos. Nenhum é novo no universo editorial, e isso nota-se, num livro em que cada página é um convite a diferentes vias de exploração pelos olhos e imaginação dos mais novos. A história é a de um galo e de uma galinha que embarcam numa viagem a um sistema solar inventado e muito doido, onde as letras do abecedário são planetas, na maioria das vezes, dotados de sentimentos e ações – “O planeta O foge choroso, quando vê o P de xarope na mão, e o Q, com cara de gozo, lhe mostra a língua armado em vilão.” Escrito em rima, com muito sentido de humor, é uma porta de entrada perfeita para as crianças que estão a descobrir as letras, ilustradas com muita imaginação pela pena de Mantraste (e também uma boa forma de mostrar que não precisam de sair do lápis direitinhas logo à primeira). Do planeta A, que atravessaram a correr, ao planeta N, que leva o M a galope, passando pelo S, a caminho do sol, chegando finalmente ao Z, qual zorro de capa e espada, é também uma maneira divertida de lhes ensinar as iniciais de várias palavras correntes, sempre na ótica de aprender enquanto se brinca. E se folheia um livro, claro. M.C.B. Livros Horizonte, 32 págs., €14,90