1. Babel
R. F. Kuang
Entre outros aspetos, os fluxos de migração têm desencadeado uma profusão de histórias que complementam e, por vezes, colidem com as narrativas nacionais. Babel, de R. F. Kuang, é disso um extraordinário exemplo. Mas mais do que contar o seu percurso de vida (nasceu na China, em 1996, e vive nos EUA desde os 4 anos), a escritora olha criticamente para o passado. A mistura de géneros que convoca, entre o romance histórico e o fantástico, só dá mais força a uma voz que quer criar a sua própria expressão. Para mostrar a opressão do imperialismo inglês, Kuang inventou um instituto de tradução associado à Universidade de Oxford do século XIX. Com umas barras de prata mágicas, esse instituto, chamado Babel, era capaz de melhorar a indústria imperial em todos os seus setores, da agricultura à guerra. Para isso, bastava encontrar a tradução mais fiel para palavras vindas de outros idiomas. O que se segue é a revolta de estudantes com outras ideias. Desrotina, 624 págs., €23,90
2. As Palavras da Noite
Natalia Ginzburg
A Relógio d’Água prossegue a divulgação da obra de Natalia Ginzburg, uma das mais destacadas escritoras italianas do século XX e seguramente a que melhor nos mostrou a intimidade que se vive dentro de uma família, a sua e a de todos nós. Além de reedições já anunciadas, os recentes lançamentos têm permitido ler algumas das suas obras menos conhecidas, como é o caso de As Palavras da Noite. O romance foi publicado em 1961, quando Ginzburg vivia em Londres. Como noutras ficções da mesma época, o enredo é marcado pelos ecos da guerra e pela profusão de vozes de diferentes gerações que se cruzam, aqui num estilo direto e apoiado nos diálogos. Relógio d’Água, 128 págs., €16
3. O Italiano
Arturo Pérez-Reverte
Não se pode falar propriamente num regresso a Arturo Pérez-Reverte, tão regulares têm sido os romances lançados pelo escritor espanhol. Jornalista com larga experiência, nomeadamente em cenário de guerra, é o próprio que assume uma disciplina de escrita, o que lhe permite uma produção assinalável, mas sempre de grande qualidade. O Italiano é mais um exemplo da sua capacidade de recriar cenários, sobretudo bélicos, e de encontrar as melhores histórias. Esta é sobre um mergulhador italiano que, durante a II Guerra Mundial, teve como missão afundar navios aliados em Gibraltar. Desta semente histórica nasce um encontro improvável com o inimigo. ASA, 368 págs., €20,90
4. Quando Vires Um Gato Branco
Saki Murayama
Já aqui assinalámos quão entusiasmante tem sido ler mais japoneses, os clássicos mas também os contemporâneos. Em conjunto, dão-nos um retrato mais fiel do imaginário de um país de fortes tradições literárias. Quando Vires Um Gato Branco aproxima-se dos romances passados num prédio que encerra uma enorme diversidade (modelo que José Saramago seguiu em Claraboia). Neste caso, é também uma homenagem aos grandes armazéns do país (antecedentes dos centros comerciais), nos quais se cruzavam muitas vidas. Ao lidar com os desejos das pessoas comuns (concretizados pelo gato do título), Saki Murayama expõe as forças e as fragilidades humanas. Presença, 304 págs., €17,90