Há sempre um grande risco associado a este empreendimento de construir discos de homenagem/tributo, em que vários músicos recriam temas históricos, mais ou menos conhecidos. Não pode haver demasiada reverência e respeitinho, nem convém estragar boas canções com versões que nada acrescentam. No meio estará a virtude, mas esse ponto não é fácil de encontrar. Quando corre mesmo bem, vários artistas conseguem emprestar o seu toque pessoal a velhas músicas, numa espécie de síntese de imaginários. Excelente exemplo de um disco de tributo que, nesse sentido, funcionou na perfeição é, ainda, I’M Your Fan, editado em 1991, com versões de canções de Leonard Cohen. Aqui, o desafio era bem difícil. As canções dos Velvet Underground são cruas, entre a melancolia marcante da voz de Nico e o rock sujo, descarnado, experimental, em contracorrente naqueles floridos anos 60, da dupla Lou Reed/John Cale. Mas a prova é claramente superada.
No lado dos que não arriscam mexer muito nas canções, emprestando-lhes a sua voz e estilo, mas mantendo as estruturas originais quase intocadas, encontram-se Matt Berninger (dos The National), que canta I’m Waiting for the Man, Kurt Vile, a quem coube a contagiante Run Run Run, e a jovem King Princess, em There She Goes Again. Sharon Van Etten e Courtney Barnett não se intimidam perante o fantasma de Nico (respetivamente em Femme Fatale e I’ll Be Your Mirror). Andrew Bird (com os Lucius) é dos que melhor conseguem injetar o seu som numa canção dos Velvet: o violino birdiano entra na perfeição em Venus in Furs. St. Vincent, ao lado do pianista Thomas Bartlett, é quem mais altera o material original: All Tomorrow’s Parties transforma-se, aqui, em spoken word com tons nostálgicos.
Pelos protagonistas convocados, a sétima faixa torna-se imediatamente um registo histórico: Thurston Moore (Sonic Youth) e Bobby Gillespie (Primal Scream) atiram-se à icónica e hipnotizante Heroin. O grand finale está reservado para Iggy Pop, acompanhado pelas guitarras em fúria de Matt Sweeney, na longa European Son. Não estranhamos que esta seja a mais intensa revisitação dos Velvet, evocando o seu espírito mais experimental e ruidoso. Afinal, de todos os músicos aqui presentes, Iggy é o único contemporâneo criativo dos Velvet Underground, e também os seus Stooges estavam a milhas das flores no cabelo, paz e amor, hippies então em voga…