Em boa hora, Vitorino Salomé, Filipe Raposo e João Paulo Esteves da Silva decidiram não pôr um ponto final no projeto que, em 2017, os juntou no palco do Teatro da Trindade, em Lisboa. O festival Há Música no Trindade encomendou-lhes um espetáculo que aconteceria em duas noites. Os três músicos perceberam que havia ali material precioso, que merecia mais do que sobreviver apenas na memória de quem presenciou os concertos. Podiam ter editado o clássico registo “ao vivo”, mas preferiram ir juntos para estúdio trabalhar nos novos arranjos e interpretações.
O título Vem Devagarinho para a Minha Beira é um verso da canção de José Afonso Que Amor Não Me Engana, uma das 14 faixas deste disco com uma voz e dois pianos.
Os vários universos de Vitorino Salomé cruzam-se aqui. Se fecharmos os olhos, tanto nos imaginamos num salão fumarento e decadente de Buenos Aires, como numa pequena sala de uma sociedade recreativa alentejana, ou num teatro de Lisboa. Filipe Raposo e João Paulo Esteves da Silva foram os cúmplices perfeitos para esta nova aventura de Vitorino: a sua versatilidade como pianistas cruza géneros e imaginários, da música popular ao jazz, passando pela música erudita. Mas este é um disco de canções, sempre pontuado pelo subtil mas inconfundível sotaque alentejano de Vitorino, nascido no Redondo há 77 anos.
O repertório escolhido cruza Carlos Gardel (El Día que me Quieras), Nat King Cole (Answer Me, My Love, canção também gravada por Joni Mitchell), José Afonso (Que Amor Não Me Engana) e até Mozart. Além, claro, de várias músicas, novíssimas ou já clássicas, da longa carreira de Vitorino. A terminar, essa pérola que sempre brilhará como exemplo do melhor que a música popular portuguesa já nos deu: Queda do Império.