Fecha-se o volume e há o desejo de sentar-se debaixo da oliveira centenária vinda da Azinhaga, hoje enraizada em frente à Fundação José Saramago e onde estão as cinzas do escritor, “simplesmente para existir”. A expressão é de Anabela Mota Ribeiro, que a usa ao descrever esse lugar à beira de uma outra oliveira, à entrada da biblioteca da casa de Lanzarote onde o Nobel viveu, e na qual há “uma cadeira e uma pedra vulcânica com tamanho de meteorito, para pousar os pés ou para nada, simplesmente para existir, existência bela”. Por Saramago é uma bela e sentida homenagem da jornalista ao Nobel português, quando se celebram duas décadas da atribuição do galardão, que o reconheceu como grande autor com livros feitos para a eternidade.
É uma tapeçaria intimista, composta por duas entrevistas feitas ao escritor nos últimos anos da sua vida, uma outra entrevista a Pilar del Río, dois textos evocativos − um, A Casa de Lanzarote; outro, registado a partir de uma viagem de Anabela ao México, José (Saramago) é mexicano − e ainda um posfácio elegíaco do poeta e ensaísta Fernando Gómez Aguilera, diretor da Fundação César Manrique; e, presença e pontuação marcantes no livro, pelas muitas fotografias inéditas de Estelle Valente, um ensaio visual em preto-e-branco dramático. Numa última pergunta, a jornalista questiona Saramago: “Escreve para ser amado? Escrever é uma forma de ser amado?” Ouviu isto: “Pode ser entendido assim. O Gabriel García Márquez dizia que escrevia para que gostassem dele. É possível. É mais exato dizer que a gente escreve porque não quer morrer (…). Não é imortalidade, isso seria um disparate; é um reconhecimento por algum tempo mais.”