Foi durante as manifestações do movimento Occupy Wall Street, iniciadas em setembro de 2011 em Nova Iorque, como protesto contra o poder dos bancos, que este disco começou a tomar forma. Na altura, o guitarrista Marc Ribot, apoiante da causa, chegou à conclusão de que faltavam canções de protesto capazes de falar, sob a forma de música, das paixões e ambições desta nova geração de revolucionários. E deitou mãos à obra, recriando temas clássicos de revoluções passadas, mas também acrescentando-lhes temas novos com destinatários bem explícitos, como o atual Presidente dos EUA, cuja eleição, segundo Ribot, apenas acelerou a vontade e a necessidade de fazer este disco. Para o concretizar chamou um naipe de convidados de luxo (de country, folk, jazz, hip-hop…) que dão voz às canções das revoluções do passado e do futuro.
O disco abre com We Are Soldiers in the Army, tema do final do século XIX tornado hino durante a luta pelos direitos civis dos afro-americanos, aqui recriado, em tons de improvisação jazzística, com a participação da cantora e compositora negra Fay Victor. Dado o mote, chega em seguida um dos momentos altos do disco, com uma pungente versão de Bella Ciao, o hino da resistência italiana contra o fascismo, pela voz de Tom Waits, de quem Marc Ribot foi companheiro de estrada e de estúdio durante muitos anos. O “trovador hardcore” da country, Steve Earle, canta um dos inéditos, Srinivas (dedicado a Srinivas Kuchibhotla, um emigrante sikh assassinado no Kansas, em 2017, por ter sido confundido com um muçulmano). “Um louco puxou o gatilho. Donald Trump carregou a arma”, diz, antes de declamar uma lista com os nomes de gente assassinada, por engano, nas mesmas condições, ou seja, por puro racismo. Já o ator e rapper Ohene Cornelius dá uma roupagem mais atual a Rata de dos Patas, ranchero popularizado pela cantora mexicana Paquita la del Barrio, tornado no seu país natal um manifesto antimachista e também ele dedicado neste disco a Donald Trump. No horizonte está sempre a ideia de fazer do mundo um sítio melhor – de preferência ao som de uma boa canção.
Ouvir a canção clássica italiana Bella Ciao na voz rouca de Tom Waits é um dos trunfos deste disco no qual a guitarra de Marc Ribot se junta a músicos dos mais diversos estilos.