A música que parte de Cabo Verde para o mundo − mesmo quando é gravada fora do arquipélago, como quase sempre acontece − continua a ser um tesouro único. Tem características de tal modo próprias que se estranha não se ter transformado ainda numa candidatura vencedora a Património Imaterial da Humanidade (breaking news: o governo cabo-verdiano entregou, há cerca e um mês, um dossier à UNESCO para dar à morna, especificamente, esse estatuto).
E o melhor que há a dizer desta tradição é que ela está bem viva. Tem compositores, músicos e intérpretes de primeira água. Isso salta à vista neste disco de estreia de Lucibela, nascida, em 1986, na ilha de São Nicolau. A sua voz doce e seguríssima abre horizontes à música popular do seu país, apontando um futuro que não precisa de se alimentar pela ditadura da novidade. O repertório deste álbum (com arranjos de Toy Vieira que toca guitarra acústica em todas as faixas) faz-se de uma mistura de música de raiz tradicional, clássicos (como Manuel de Novas) e também contemporâneos (Betu, Mário Lúcio, Nhelas Spencer…), e ainda de novíssimos (há dois temas inéditos de Elida Almeida que tem, apenas, 25 anos). Depois de ter iniciado a carreira, ao ritmo lento de uma morna, em várias ilhas de Cabo Verde – São Vicente, Boavista, Santiago… –, o mundo é, agora, o palco de Lucibela.