Em 2012, A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert foi um daqueles títulos-soundbyte: até os mais distraídos ouviram falar dele. O autor tinha 27 anos, o romance tinha 700 páginas, a história tinha atmosfera e volteface capazes de tornar um entretenimento num pequeno culto. Marcus Goldman, o escritor bloqueado que investiga as acusações ao seu mentor, de ter assassinado uma adolescente há 30 anos, regressa neste opus de Dicker. O Livro dos Baltimore é um álbum de família, thriller dinástico com invejas freudianas. No centro, três primos, gangue inseparável, representativo de tipos familiares: um princípe intelectual (Hillel), um protetor que é bom no desporto (Woody), um underdog que superará os objetos da sua admiração juvenil (Marcus). Dois dos rapazes pertencem ao ramo bem sucedido da família, os Goldman de Baltimore, protótipo do sonho americano – pai rico, mãe belíssima, mansão festiva. Os outros, os Goldman de Montclair, são gente remediada de Nova Jérsia. A esta matéria inflamável, o autor aplica a fórmula: contas a ajustar entre passado e presente, relações infestadas de segredos, um escritor-narrador que testa capacidades em território próximo, narrativa entrecortada de flashbacks, ritmo de pageturner. O método funciona. Entramos aqui para perceber o “Drama”, evento misterioso vivido pelos Baltimore, e só saímos na última página…
Em O Livro dos Baltimore (Alfaguara, 552 págs., €21,90), Joel Dicker regressa à personagem de A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Há quem encontre em Dicker um aspirante ao pódio de grandes romancistas que dissecam a psicologia da América e adotam personagens alter ego em vários livros.