Os embrulhos fazem-se ainda com papel pardo e cordel, à antiga, leve-se uma, duas ou meia dúzia de latas para oferecer. A atenção dedicada a cada cliente é essencial, pois as dúvidas são tantas que todas as sugestões são bem-vindas. É difícil escolher entre o atum com batata-doce, a cavala com amêndoas e azeitona, o atum com pimenta da terra dos Açores, os filetes de cavala com caril, a cavalinha em limão ou o biqueirão em escabeche. A juntar à lista de clássicos, ainda há novos exclusivos, produzidos pela Conserveira do Arade, em Portimão: espadarte com grão e dourado (mesmo assim) com tomilho, “petiscadas” em frasco de vidro.
Há 88 anos, a Conserveira de Lisboa nascia como Mercearia do Minho, em pleno coração da Baixa, na Rua dos Bacalhoeiros, na esquina com a Rua da Madalena. O avô de Tiago Ferreira fazia questão de ter na sua mercearia um banco, onde os fregueses conversavam e partilhavam histórias de vida no bairro. Um simples detalhe agora replicado na nova morada da Conserveira de Lisboa, aberta a 30 de outubro, resvés à Rua do Poço dos Negros. “Antigamente, comprar não era só uma troca comercial; era estar nos lugares e conversar”, lembra Tiago Ferreira. Naquela zona, reúne-se o melhor de dois mundos, com a vida de bairro a conviver com o vaivém de turistas que sobem ao Chiado.
Na loja, ainda se trabalha como se de uma mercearia se tratasse, principalmente, para chegar aos portugueses. Por isso, o empapelamento das latas é feito à mão. “Como não somos produtores e provamos dois ou três exemplares de cada lote, se as latas estivessem impressas já não poderiam ser devolvidas”, explica Tiago. O designer Filipe Alarcão teve especial atenção com os pormenores, como o banco de madeira, o balcão e o móvel de exposição das latas, dando o toque elegante, sóbrio e chique, mesmo. E se a casa original integra a lista das Lojas com História, selecionadas pela Câmara Municipal de Lisboa, esta versão do século XXI para lá caminha.
Conserveira de Lisboa > Lg. Dr. António de Sousa Macedo, 5, Lisboa > seg-sáb 10h-20h