Reconheça-se o mérito de Cláudia Martins, Luís Carvalho e Rui Bispo por quererem contrariar esta ideia dos tempos modernos do compra-usa-e-deita-fora. Na Respiga, a loja aberta por este trio de arquitetos no centro da Parede, na Linha de Cascais, tudo o que está à venda não tem par igual e é feito para durar no tempo. Falamos dos aparadores, arquivadores, estantes e cadeirões, com design simples e intemporal, redesenhados a partir de móveis antigos, gavetas ou caixas de madeira maciça encontradas por aí. “O que fazemos não é restauro”, esclarece Rui Bispo. “Apanhamos o que supostamente é ‘lixo’ e reutilizamos a matéria-prima para fazer mobiliário novo.” Acrescentem-se aqui os candeeiros com abajures revestidos a bolotas de cedro, cascas de caracóis ou ouriços-do-mar perdidos na areia. Os mesmos que usam também para dar largas à imaginação em quadros que ficam bem na parede lá de casa.
Aberta no fim de novembro, a Respiga ocupa o piso térreo de um edifício de meados do século XIX. “Estava praticamente em ruína”, conta Cláudia Martins. “Mas tinha tudo a ver com o nosso projeto e decidimos que tinha que ser aqui”. As obras de reabilitação duraram um ano e do que encontraram no antigo armazém de mini mercado, que já tinha sido uma vacaria, ainda se aproveitaram algumas coisas para decorar a loja. Como as garrafas, penduradas sobre o balcão, a servir agora de candeeiro ou as caixas (de madeira!) da Sumol, Schweppes e Águas do Areeiro que forram uma das paredes. Aos respigadores juntou-se entretanto Luís Andrade, marceneiro experiente a quem está entregue a oficina a funcionar mesmo ali ao lado e aberta à curiosidade de quem entra.
Além dos móveis com a assinatura dos “respigadores”, há outras marcas (portuguesas) à venda, que em comum têm a reutilização de materiais. A Rewashlamp, por exemplo, transforma tambores de máquina de lavar em candeeiros; a De Raiz faz bancos a partir de troncos de árvores; e na Incógnita Ateliê reaproveita-se restos de embarcações e objetos resgatados ao mar para criar esculturas. E se Margarida Valente teve a ideia de forrar cadeiras com elásticos de meias velhas, já Maria Boavida salva caixas de vinho em madeira de um destino quase certo, para as transformar em bonitas caixas de luz. Muitas, e boas, ideias lá para casa, numa rua do centro histórico da Parede, à procura também de se reabilitar.
Respiga > R. José Elias Garcia, 29, Parede > T. 21 457 3198 > seg-sáb 10h-12h30, 13h30-20h