Elogie-se Helena Henriques Nunes, 46 anos, por, em tempo de “conceitos”, ter aberto uma loja que não tem grande narrativa para contar. Tem, isso sim, coisas bonitas, bem escolhidas, bem selecionadas, com qualidade. Tudo o que está à venda na Wetani, aberta desde abril na Rua de São Paulo, em Lisboa, possui, aliás, a cara de Helena – e sobretudo o seu (bom) gosto. A roupa de todos os dias da Twist & Tango (uma marca sueca), as malhas francesas da Marie-Sixtine, os fatos de banho e os biquínis da Le Mar (colombiana), os objetos da cerâmica cheia de cor da Mateus, da autoria de uma portuguesa emigrada na Suécia há longos anos que parece ter ido buscar inspiração a Bordallo Pinheiro ainda Bordallo não havia sido “recuperado”. Tudo coisas simples, algumas (poucas) portuguesas, para clientes que seguem “modismos” à distância e não se importam de contrariar as “tendências”.
Nem o nome, Wetani, tem uma explicação. Começaram por ser apenas umas letras, juntou-se-lhes depois um sufixo. “Não gosto de artificialidade – nos lugares, nas pessoas, nas coisas e, porque não?, nos objetos”, explica Helena, atrás do balcão (também ele bonito) que ela própria decapou e recuperou. Até há muito pouco tempo ali vendiam-se equipamentos agrícolas, um dia Helena entrou, perguntou se alguém sabia de um sítio para alugar nas redondezas e os senhores que lá estavam a trabalhar disseram-lhe que talvez quisessem, eles próprios, desfazer-se do negócio. “Ficaram satisfeitos que eu não estivesse a planear abrir um bar ou um restaurante”, conta Helena. E a ela, licenciada em gestão, que toda a vida tinha sido assalariada, agradou-lhe o espírito do lugar. “Não sou de grandes sonhos, sempre convivi muito bem com o que a vida me dá”. Ainda lá estão as portas da “Gerência” e dos “Serviços Técnicos”, as prateleiras e o guichet de atendimento ao público.
Quando inaugurou a Wetani, Helena não pensou nos turistas. Pensou na EDP, sim, que em breve se instalará ali perto. Mas a verdade, afirma, “é que os estrangeiros têm aparecido”. A propósito, Helena também tem qualquer coisa para dizer sobre o turismo em Lisboa. Quer continuar a ter, por perto, lojas de ferragens e mercearias sem ser gourmet. “O encanto das cidades é ter lugar para todos. Não podemos estar todos a vender o mesmo. Porque até os turistas estão cansados de ver as mesmas coisas em todo o lado”, defende. E esta prosa não poderia terminar sem se fazer referência ao charme da italo-francesa Chez Dédé, sacos e bolsas, em pele ou em lona, lisos ou com vários padrões, que são o que mais brilha quando se entra na Wetani. Isto é, se os olhos souberem ver claramente visto.
Wetani
R. de São Paulo, 71 A e B, Lisboa
T. 93 799 2223
Ter-sex 10h-15h, 16h-19h, sáb 12h-19h