Vítor Sobral bem tentou passar despercebido, atrás das brasas desta sua nova Carvoaria. O restaurante abriu há pouco mais de um mês e, entretanto, o chefe esteve numa longa viagem pelo Japão, a propósito da Expo Osaka 2025. Nesse intervalo de tempo, passámos pela rua em que está o restaurante e o nome no toldo despertou-nos a curiosidade. Tivemos de convocar o chefe para a mesa, para nos explicar tim-tim por tim-tim o que vem a ser esta carvoaria, se quase nem fumo vemos?

Desde logo, nota-se – até pelo nome escolhido – que o epicentro está num moderno churrasco aberto para a sala de refeições. Das mesas, consegue-se observar tudo o que se passa em cima da grelha, sem que a sala seja invadida pelo cheiro típico da comida nas brasas. No entanto, não se espera que o chefe se limite a pôr pedaços de carne ou de peixe no carvão, como se fosse um banal churrasco. Isso acontece, mas há muito mais para descobrir.
Aqui, a sustentabilidade dita os sabores originais que chegam à mesa, pois, segundo as suas palavras, “não há partes nobres ou menos nobres, existe boa ou má carne”. É por isso que, no caso do porco, por exemplo, não se desperdiçam nem orelhas nem focinho.

O mesmo se passa com o peixe. Em vez dos óbvios robalos, douradas ou linguados, Vítor Sobral prefere grelhar raia, pampo, corvina ou bonito (um tipo de atum injustamente menosprezado). E, claro, a “gravata” (a parte à volta da guelra) há de vir na travessa, pois é a parte mais suculenta dos bichos. A acompanhar, servem-se legumes grelhados e batatas que também levam uma entaladela no carvão.

Se estiver com dificuldades em cortar os alimentos, coisa que acontece aos melhores, peça a ajuda de uma faca especial. Não se vai arrepender – terá nas mãos uma competente ICEL, gravada com o nome do restaurante e do chefe.
Apesar da já nomeada personagem principal, nem só de grelhados se faz a ementa. Há entradas como peixinhos da horta (€8,5) e pratos do dia que são todos de tacho (€18), servidos em recipientes de barro de Molelos (zona do Dão), ainda a borbulhar – “vai à chama e não parte”, garante o chefe e o sócio Abel de Matos, que é da terra destas peças de arte para a culinária.

No dia em que lá fomos, uma quinta-feira, tivemos a sorte de provar uma cachupa à moda de Cabo Verde. Mas, em calhando noutro dia da semana, poderíamos ter comido caril de peixe goês (seg) ou muamba de galinha (sex). A rematar, dizemos já, o mil-folhas de maçã é o menino dos olhos do chefe.

Carvoaria > R. Nova de São Mamede, 23 > T. 92 760 8582 > seg-sáb 12h-23h