A carne tem de se desfazer na boca. O molho de natas, guloso mas não enjoativo, tem que ter a consistência certa para cobrir o bife e agarrar-se às batatas fritas cortadas à mão. Reproduzir todos os dias, sem erros, a receita original de 1982, inspirada no bife à Marrare, é ponto assente no novo Café de São Bento em Cascais.
Quem conhece este clássico lisboeta, em frente à Assembleia da República, vai sentir-se em casa no restaurante no centro histórico de Cascais. Ainda à porta, o cerimonial (sem cerimónias) mantém-se: tocando à campainha, recebe-nos um dos elementos da equipa de sala, vestido com camisa branca, colete de xadrez e laço preto.

Também a decoração e os materiais replicam o original: madeira de mogno (e foram muitos metros) nas paredes e tetos, latão nos apliques dos candeeiros, veludo nos sofás, cabedal nas cadeiras, mármore Verde Guatemala nas mesas.
Miguel Garcia, o empresário à frente do Grupo São Bento, espera-nos na primeira sala e está visivelmente satisfeito com o resultado. Aponta para a cozinha aberta e o balcão de quatro lugares, uma diferença em relação a Lisboa. Aqui, diz, seria uma pena não aproveitar a luz natural que entra pelas janelas, iluminando a segunda sala. Em vez de pesados cortinados de veludo, optou-se por cortinas transparentes e a varanda foi transformada numa pequena esplanada, com 16 dos 50 lugares sentados.
Na ementa, “exatamente igual” à de Lisboa (preços incluídos), garante Miguel Garcia, os bifes estão em destaque. Antes, há outras coisas que vale a pena experimentar. Por exemplo, nas entradas, o steak tartare, feito com a mesma carne e servido com tostas (€15), ou “os tradicionais camarões al ajillo” (€14,50), com malagueta e alho, podem (e devem) ser partilhados.
O bife à Café de São Bento pode ser do lombo (200g/€30) ou da vazia (200g/€27) – em alternativa, servem também à portuguesa, com alho, louro e presunto, ou grelhado. Quem não quiser comer carne, tem bacalhau gratinado (€23) ou tarte mediterrânica (€20).

Nas sobremesas destaca-se a tarte tatin, um clássico das brasseries parisienses, servida quente e acompanhada por um gelado de baunilha (€9), enquanto o abacaxi cortado finíssimo e com raspas de lima (€8) é ideal para ajudar à digestão da carne.
Para assinalar esta abertura em Cascais, e os 43 anos do Café de São Bento em Lisboa (será em junho), foi criado um vinho tinto em exclusivo para o restaurante, resultado de uma parceria com a Herdade Papa Leite. Deste reserva de 2021, feito com as castas Alicante Bouchet e Merlot, foram produzidas 600 garrafas.
Miguel Garcia trabalhou 22 anos na hotelaria (na parte de comidas e bebidas) antes de se dedicar à restauração. Em 2022, adquiriu o Café de São Bento e não mais parou. Em Cascais, onde há cada vez mais estrangeiros a morar, abriu o Bougain (em 2023), com um bonito jardim na Pérgula House, e o Corleone Ristorante Al Mare (2024), no hotel Villa Cascais, virado para a baía.
Ainda o ano de 2024 não tinha terminado, reabria o bar Snob, outro clássico lisboeta também conhecido pelo seu bife.
Muito em breve, estará a inaugurar um Bougain em Lisboa, na Avenida da Liberdade. Quanto ao Café de São Bento, haverá outro este ano, mas o proprietário prefere não revelar ainda a localização.
Café de São Bento Cascais > R. Alexandre Herculano, 71, Cascais > T. 96 487 1833 > seg-sex 12h-15h, 19h-23h, sáb-dom 12h30-24h > seg-sex ao almoço menu executivo (entrada e prato ou prato e sobremesa, e café, €27)