Ainda estamos a digerir os aromas do magnífico jardim, pensado de raiz para alimentar o Austa, e já temos um cocktail com endro nas mãos. Enquanto saboreamos esta frescura no copo, Emma conta-nos tudo sobre este bom fruto saído da pandemia. Ela e David Campus deixaram Londres, durante a Covid-19, e também os empregos, na moda e em marketing, respetivamente – hoje são a gerente e o sommelier. Os pais de Emma já cá viviam há 20 anos e tinham um terreno livre, mesmo ao lado da sua loja de decoração, a Dunas Living, em Almancil, no Algarve.
Daí à abertura das portas do Austa, no final do verão passado, foi um ver se te avias, a afinar o conceito de “comida honesta, com ingredientes sazonais e produtores locais”, tal como anunciam na porta de vidro, em inglês. No entretanto, fizeram um périplo por produtores nacionais, à procura daqueles que se ajustavam ao que eles gostariam que fosse o seu restaurante.
A sustentabilidade é, afinal, a ideia-base, em que o luxo não se vê, mas que se sente a cada garfada e especialmente na descontração do ambiente. Aqui tudo tem uma história, do vinho ao azeite, passando pela manteiga, feita a partir do leite de vacas de São Brás de Alportel. David Barata é o chefe que largou de vez o fine dining, para se sintonizar com o discurso do casal de ingleses. Depois de vários anos em Estrelas Michelin, é dele a carta deste restaurante, desde o pequeno-almoço ao jantar. “Queria fazer uma cozinha mais direta e descontraída, nunca abdicando da qualidade do produto, da proximidade e da microssazonalidade”, clarifica, no final de uma refeição em que tudo correu sem um único reparo.
Destacamos os pequeninos camarões-cristal, de Vila Real de Santo António, que, depois de fritos, mergulham de cabeça numa maionese de ervas do jardim, assim como a lula de Quarteira, cortada em tirinhas, a imitar massa de arroz. Embora este truque culinário engane bem os olhos, não consegue fazer o mesmo ao palato: a frescura do sabor a mar prova que se trata de um cefalópode. A ementa continua, sempre assim, com a denominação de origem, como o porco Feito no Zambujal ou a curgete (e a sua flor), colhida na horta lá de fora, zona em que também existe uma esplanada para as invejáveis noites quentes algarvias. Um luxo bem camuflado, a que só alguns têm acesso.
Austa > R. Cristóvão Pires Norte, Almancil > T. 96 589 6278 > ter-sáb 9h30-17h 19h-21h30