Liberdade e inspiração diária. Tem sido assim que Bruno Caseiro nos tem brindado à mesa do Cavalariça – primeiro na Comporta, depois em Lisboa –, onde apresenta uma cozinha sazonal. Quando o restaurante abriu no número 86 da Rua da Boavista, no final de 2020, a ideia era ficar por ali uns meses, mas esta acabou por tornar-se a sua morada definitiva na capital. Agora, ao jantar, apresenta o Rédea Solta, um menu de degustação composto por cinco (€50) ou sete momentos (€65) surpresa, em que o chefe de cozinha dá asas à sua imaginação e criatividade com base nos produtos que lhe chegam às mãos.
O primeiro menu de degustação do Cavalariça serve também para experimentar e avaliar reações, até porque, ficamos a saber, alguns pratos podem depois entrar na ementa. Daqui para a frente, tudo o que escrevermos será novidade e não se garante que vá encontrar à mesa do restaurante. “A ideia deste menu é as pessoas entregarem-se nas nossas mãos”, lembra Bruno Caseiro. A exceção é o couvert – composto por pão de fermentação lenta, foccacia de batata e cebola, crakers de massa mãe, brioche de puré de batata glaceado, pasta de algas e azeitonas e manteiga de vaca fermentada com flor de sal –, com lugar cativo em qualquer altura do ano.
Para primeiro snack chegou o puré de tupinambo com bivalves, lâminas finas de toucinho curado e mão-de-buda (citrino). Os sabores de mar continuaram com a gamba da costa, crutons e molho de cabeças de carabineiro, a que se seguiu uma sopa de espargos, ervilhas e ervilha-torta, com batata palha no topo, uma reinterpretação da vichyssoise. “Uma das coisas que gosto de fazer é pegar nos clássicos da cozinha francesa e usar isso como ponto de partida”, diz Bruno de Caseiro, numa das suas vindas à mesa. A julgar pelas reações, arriscamos escrever, o mais provável é esta sopa acabar na ementa.
Já nos pratos, houve noodles de choco, umas alhetas de corvina servidas com favas bringidas e molho pil pil (deliciosas), e presa de porco alentejano acompanhada com rábano, chalotas, alho-francês, salada de kale (couve) e um molho inspirado no mole mexicano. Para sobremesa, a escolha recaiu num refrescante parfait de leite de cabra com pepino, granita de azedas e gelado de funcho.
O que aqui se escreveu não ficaria completo sem uma referência aos vinhos que acompanharam o menu. A saber: Espumante Joaquim Arnaud Bruto Super Reserva da Bairrada; Vinho Verde António Lopes Ribeiro, da Casa de Mouraz, em Tondela; Branco Quinta da Silveira, no Douro; um tinto Pinot Noir Peripécia, da Quinta do Cerrado da Porta, da Região de Lisboa; e, para rematar, o Hobby Abafado, feito com uvas de Fernão Pires, da Região Tejo. Todos surpreendentes.
Depois da Comporta e de Lisboa, o Cavalariça prepara-se para abrir em breve em Évora, no edifício do Palácio Cadaval, junto ao Templo Romano. Bruno Caseiro promete um restaurante diferente. “Está noutra cidade e isso reflete-se no que fazemos. Por alguma razão, o menu de Lisboa é diferente do da Comporta.” Um bom motivo para rumarmos também a Évora.
Cavalariça > R. da Boavista, 86, Lisboa > T. 21 346 0629 > ter-sáb 12h30-15h, 19h-22h30 > menu rédea solta (apenas ao jantar) €50 (5 momentos), €65 (7 momentos) > pairing de vinhos €25/€30 (4/5 vinhos)