Apesar da crise, em 2020 foram lançados no mercado muitos e bons vinhos. Pena foi que tantos outros tenham ficado por apresentar, devido aos constrangimentos a que os respetivos produtores se viram sujeitos. Quer isto dizer que o ano de 2020 teria sido excecional, no que respeita à oferta de novos vinhos, caso o mercado funcionasse normalmente, o que não aconteceu. Resta-nos o consolo de saber que mais vinhos estão prestes a aparecer com a garantia de haver boas surpresas.
Entretanto, contentemo-nos com os que pudemos provar em 2020 – muitos e bons, repetimos –, de todas as regiões e com os mais variados tipos, estilos e preços. Sirvam de exemplo estes: Costa Boal Homenagem Grande Reserva 2015, vinho branco sofisticado, do Douro; Adega de Penalva Bical 2019, outro branco, monocasta, trabalhado com grande rigor, do Dão; Quinta do Gradil Tannat Regional Lisboa 2018, também de uma só casta, mas tinta, da região de Lisboa.
Sobre o branco Costa Boal, vale a pena reter duas notas: é um vinho novo, com estrutura, acidez viva e óbvia capacidade de envelhecimento que lhe asseguram grande longevidade e entrada certa na galeria dos grandes vinhos. Constitui, juntamente com o tinto Costa Boal Homenagem 2011, lançado nos fins de 2019, a dupla de topo de gama do produtor. São dignos tributos a seu pai, Augusto Boal, viticultor do Douro durante a vida inteira.
O Bical da Adega de Penalva do Castelo faz parte de uma série especial, criada pela cooperativa em 2015, com vinhos diferentes que deliberadamente se afastam das tendências dominantes, revelando a riqueza da região com castas esquecidas. Estes vinhos só são produzidos quando o ano é excelente para a casta. Foi o que sucedeu em 2019 com a Bical, que deu um vinho muito equilibrado, com elegância e frescura cativantes.
Os vinhos monovarietais da Quinta do Gradil – uma das mais antigas do concelho do Cadaval, na região de Lisboa – pretendem expressar a pureza de cada casta, sendo de produção limitada e dependendo de cada colheita. O Quinta do Gradil Tannat 2018 é concentrado, poderoso, cheio de garra; em suma: tem aquela intensidade que tão bem caracteriza a casta. Boa colheita e belo vinho.
Costa Boal Homenagem Grande Reserva Douro Branco 2015
Elaborado com as castas Códega de Larinho, Rabigato, Gouveio e Arinto, o vinho estagiou em barricas de carvalho-francês, durante 16 meses. Foi refrescado em 2017, com um lote da colheita desse ano (15%), para acrescentar frescura crocante ao volume e à estrutura que já tinha. Está a caminho da plenitude: cor dourada, aroma fino e complexo, paladar bem estruturado e cheio de frescura. Tem muita classe e está para durar. €65
Adega de Penalva Bical Branco 2019
Produzido exclusivamente com uvas da casta Bical, ou Borrado das Moscas, como também se diz, de uma vinha com cerca de 40 anos. Estagiou por três meses em cuba de inox, e todas as semanas as borras foram levantadas “para o vinho ganhar textura sedosa e complexidade”. Tem cor amarelo-citrina, aroma discreto e muito delicado, paladar suave, fresco, com um toque levemente adocicado que é muito apelativo. €7
Quinta do Gradil Tannat Regional Lisboa Tinto 2018
Só uvas da casta Tannat neste vinho intenso. Fermentou em inox e 30% do lote estagiou durante nove meses em barrica. Apresenta uma cor escura, aroma concentrado a frutos vermelhos, com algum fumado e leve baunilha (da madeira), paladar “nervoso” com taninos firmes e acidez vincada, final muito longo. Bom parceiro para os pratos fortes da cozinha tradicional portuguesa. €10,50