Chocolate negro, ervas aromáticas, especiarias, framboesas e mirtilos estão entre os ingredientes já usados em edições especiais por Arménio Martins, o mestre cervejeiro da Sovina, para a diferenciar das ditas cervejas industriais. A estes adiciona as típicas matérias primas de base relacionadas com o fabrico da bebida: água, levedura, lúpulo e malte. Já lá vamos.
A entrada faz-se pela loja, onde está todo o equipamento e a matéria prima para um qualquer aprendiz fazer cerveja, em casa ou montando um negócio. Entre sacos de malte, barris e packs de Sovina, há copos, garrafas, caricas coloridas, sabonetes de cerveja, livros e receitas. É um mundo borbulhante para descobrir neste armazém, situado na zona industrial do Porto, que se avista da A28. No início, como recorda Arménio Martins, a Sovina foi um projeto de loucos, que começou numa garagem, em 2009, e que através de um processo de tentativa e erro, fez chegar ao mercado, em 2011, a primeira cerveja artesanal a ser produzida e engarrafada em Portugal. “Era um produto que não existia, mesmo a cerveja estrangeira era difícil de adquirir”, lembra.
Da loja passa-se à sala de provas, onde a história continua. Dois anos depois da Sovina ter chegado ao mercado, em 2013, trocaram a garagem por este armazém na zona industrial do Porto. “As instalações já eram curtas para aquilo que ambicionávamos”, diz o mestre cervejeiro. Mudaram para crescer, sem perder de vista o objetivo de fazer uma cerveja de qualidade, natural e com os quatro ingredientes base. De sabor diferenciado e corpo consistente, acrescente-se. “A Sovina é uma marca pequena, mas reconhecida no País”.
A sala de provas dá acesso à fábrica, onde se produz cerca de 100 mil litros de cerveja por ano, e a alquimia acontece. É num lugar dominado por cubas de inox, de onde sairá a primeira loira para a audiência provar, que a visita se demora. “Fazemos questão de trabalhar com os melhores maltes do mundo. É quase a essência da cerveja”, continua o mestre. Ali encontram-se os sacos das alemãs Best Malt e Weyermann, que produzem maltes especiais “para dar corpo e estrutura à cerveja”.
Além de criar um perfil de água para cada estilo de cerveja, a Sovina usa diferentes maltes e cereais, cuja ligação se faz em cerca de duas horas. Entretanto, introduz-se o lúpulo, de acordo com o amargor, sabor e aroma pretendido. Entre cítricos e florais, herbáceos e terrosos, há mais de 200 variedades de lúpulo – a Sovina usa 50 – que conferem personalidade à bebida. “A cerveja é o equilíbrio disto tudo”, remata Arménio. Depois de ferver, o mosto é arrefecido e passa para os fermentadores, onde vai inocular com as leveduras e dar início ao processo de fermentação, ficando aí entre sete a 15 dias. Terminada a maturação, a cerveja entra na linha de enchimento e segue para o mercado.
O portefólio de seis cervejas – aos dois primeiros tipos, a Amber e a Munich Helles, lançados em 2011, sucederam-se a India Pale Ale (IPA), Dry Stout, Trigo e Bock -, há muito que era cobiçado por outras empresas. Depois de uma primeira tentativa, em 2015, sem sucesso, há cerca de dois meses, o grupo Esporão, propriedade da família Roquette, conseguiu comprar a Sovina. O objetivo é replicar nas cervejas o mesmo trabalho que tem sido feito pela empresa nos vinhos e azeites, contribuindo para a abertura do mercado a produtos diferenciados. “Queremos ser parte integrante do desenvolvimento de uma cultura cervejeira em Portugal”. João Roquette, um dos administradores do grupo, sublinha o percurso da Sovina, que “é líder das artesanais”, e avança com novidades. Em análise está já a abertura de um conceito novo, os centros de experiência Esporão, para juntar o azeite, o vinho, o queijo e, claro, a cerveja, com a gastronomia. A começar em cidades como Lisboa e Porto, no próximo ano. Além de integrar o enoturismo do grupo, no Alentejo e no Douro, nos futuros centros vai contar-se a história da marca, dar-se a conhecer os diversos produtos em harmonizações ou workshops, como acontece na fábrica da Sovina. “A prova é muito importante“, assegura João Roquette.
Atualmente, além das cervejas constantes no portefólio, que podem ser degustadas na sala de provas no fim da visita à fábrica, na Sovina há lançamentos sazonais. O caso mais recente é a Portwood, que estagia durante seis meses em cascos de carvalho, onde foram adicionadas borras de Vinho do Porto Tawny, com 30 anos. “Será lançada em breve. Ainda é uma experiência”, confidencia Arménio, quase a terminar a visita. Aromática, morena ou loira, mas sempre borbulhante. Faça-se o brinde à cerveja artesanal, irresistível desde a primeira prova.
Sovina > R. Manuel Pinto de Azevedo, 65, Armazém 4 e 5, Porto > T. 22 600 6936 > seg-sex 10h-13h, 14h30-19h