Em cima do balcão, está o bolo 4 de maio acabado de chegar da cozinha. A receita pode não ser exatamente a mesma do século passado, mas continua a fazer lembrar o bolo original, servido à fatia, na cafetaria que Adriano Teles abriu, na rua Sá da Bandeira, no Porto, precisamente, a 4 de maio de 1903. A Brasileira chega, pois, esta sexta-feira, dia 4, aos 115 anos, tentando recuperar a atmosfera de antigamente, em que era o local privilegiado para as tertúlias de escritores, pensadores, artistas, ou simplesmente, de quem ali ia tomar e comprar café. Esta sexta será, por isso, um dia de festa, podendo mesmo encontrar por ali alguns ardinas vestidos à época, referência à época em que Adriano Teles editava um jornal quinzenal, com o mesmo nome do café, publicado durante 13 anos (até 1916).
Mas voltemos ao bolo 4 de maio. Rui Martins (chefe de cozinha do restaurante d’A Brasileira) tentou recuperar a receita a partir do que foi lendo em escritos antigos. “As pessoas diziam que continha frutos secos, um travo a cenoura, damasco…”, conta. A nova receita – que, tal como a original, não leva açúcar – inclui também frutos secos, como alperce, ameixa e nozes, que são macerados com cenoura e canela.
Na nova vida do café A Brasileira, reaberto há pouco mais de um mês, renovado, e agora com restaurante e hotel, propriedade de António Oliveira com parceria de gestão do Grupo Pestana – também o crumble de maçã relembra outro doce de antigamente. Dele se saberia apenas “levar maçã e um género de pão ralado por cima”, conta-nos Rui Martins. Mas a pastelaria – a maioria, feita no ateliê da Colonial, de Francisco Gomes – recria outros bolos tradicionais (€3) como o rançoso, o quindim, o toucinho do céu, o pudim Abade de Priscos, o pastel de feijão, os jesuítas, e bolos de autor (€4,50) como a tarte cheesecake, de limão com merengue, de maracujá, e, aos fins-de-semana, uma coleção de éclaires (€2,50): limão, framboesa, maracujá, morango e cardamomo, praliné e chocolate 70%.
O melhor café é o da ….
Ficou célebre o slogan d’A Brasileira, a primeira cafetaria a servir café em chávena no início do século XX. Durante 13 anos, Adriano Teles oferecia uma chávena de café a quem comprasse os grãos moídos em saco, naquela que foi considerada uma grande operação de marketing. Também hoje o café é trazido de uma fazenda de Minas Gerais, Brasil, próxima da original. Por cá, os grãos verdes são depois torrados manualmente, em pequenos lotes, pela Vernazza Coffee Roasters, podendo ser bebido em forma de expresso, café americano, cappuccino ou caffé latte. O café quer continuar a ser o foco principal da carta, na qual se incluem os chás da Compagnie Coloniale e uma variedade de cocktails ainda em fase de criação (alguns, terão café na sua confeção). Por enquanto, a novo lote d’A Brasileira ainda não é vendido a peso, mas esse será um dos objetivos para breve.
Café A Brasileira > R. Sá da Bandeira, 91, Porto > T. 21 041 7160 > seg-dom 8h-24h