Faltava naquela zona da cidade do Porto, o quarteirão das artes da avenida Miguel Bombarda, um restaurante como este, contemporâneo e capaz de representar condignamente a nona arte – a gastronomia. O galerista Fernando Santos tinha o espaço adequado numa antiga oficina de restauro de automóveis, e o chefe de cozinha Marco Gomes, procurava um lugar onde pudesse dar outra expressão à sua cozinha profundamente enraizada na tradição portuguesa, mas com rasgos de modernidade, para levar mais longe a experiência do Foz Velha. Juntaram vontades e transformaram a oficina velha num restaurante moderno. O arquiteto Rodrigo Patrício e o designer Paulo Lobo ajudaram a criar um espaço moderno e belíssimo que preserva traços e até materiais de origem. Ficou espantoso.
Motivo de admiração é também a cozinha, baseada na tradição portuguesa com os seus produtos, sabores, receitas e até modos de confeção, mas atualizada com a criatividade, a experiência e a técnica do chefe Marco Gomes. A ementa, que muda de quatro em quatro meses, realça, agora, produtos como as castanhas, os cogumelos, as carnes de porco bísaro e outros próprios da época. É fácil reconhecer pratos que vêm do Foz Velha ou das cartas anteriores do Oficina, que abriu há um ano e meio, embora com diferenças na combinação de ingredientes e/ou na apresentação. Nas entradas destacam-se as favas, que lembram o Foz Velha, embora tenham agora outra apresentação: um estufado com chouriço, ovo escalfado, tomate assado e queijo; as vieiras frescas, também sempre presentes, mas com várias ligações, aqui numa confeção simples na chapa com ervilhas de quebrar, presunto crocante e pó de azeite; e o fresco e guloso canelone de algas com recheio de sapateira, camarão e berbigão. Nos pratos principais – seis de peixe, um vegetariano e seis de carme, a que acrescem cinco medalhões de lombo de boi maturado – há opções que se impõem, como o polvo no forno com batata-doce, pimentos assados e crocante de mandioca, sempre tenro e apetitoso; o lombo de atum fresco laminado com puré de ervilha e gravilha de legumes, com a carne consistente, gorda e saborosa; o lombo de bacalhau tradicional com broa, coentros e grão-de-bico, que é um clássico; o cordeiro de leite com arroz de carqueja e couve ao vapor, simples e sublime, evidenciando a qualidade dos produtos e a mestria das mãos que os trabalham; o mil-folhas de perdiz vermelha com legumes e molho da mesma, num estufado à moda antiga com a massa folhada artisticamente intercalada; e o lombinho de porco bísaro com castanhas, cogumelos, chalotas e ervas do campo, em que reina a harmonia. Para sobremesa, as rabanadas de sempre, aqui numa versão mais sofisticada com gelado de caramelo salgado e redução de vinho do Porto. Excelente garrafeira com um bom leque de vinhos a copo. Serviço eficiente e simpático.
Oficina > R: Miguel Bombarda, 273-282, Porto > Tel: 22 016 5807 e 93 671 2384 > ter-sáb 12h30-15h;19h30h-23h, seg 19h30-23h > €40 (preço médio)