Abriu há pouco mais de três meses, na Ajuda, bairro popular que Justa e o marido, António Nobre, bem conhecem, pois foi lá que se estabeleceram por conta própria, com grande sucesso, na década de 90. Esse restaurante, chamado O Nobre, ainda existe, mas noutro lugar, ao Campo Pequeno, e continua a ser uma referência da cozinha portuguesa e da gastronomia da cidade, com Justa no comando da cozinha ao lado das suas irmãs, Ana e Guida, e com António Nobre à frente da sala. Mas, agora, Justa está mais voltada para a Ajuda, onde, juntamente com o chefe Gonçalo Moreno, apresenta uma cozinha de base tradicional portuguesa com o toque pessoal dela, fiel à sua raiz transmontana, e dele, formado na escola moderna. Uma cozinha com produtos de qualidade, combinações harmoniosas dos ingredientes – poucos, em regra, porque nada entra só para fazer número -, e sabores muito bem definidos, equilibrados e apelativos.
Feita à dimensão da cozinha e da sala, que são pequenas, a ementa tem quatro pratos clássicos fixos: sopa de santola, tão sedutora no inverno, por ser quente, como no verão, por ter marisco, aromática, suave, deliciosa; o lombo de robalo à Justa, cozinhado da maneira mais simples, em papelote, com um fio de azeite e ervas aromáticas que realçam o sabor delicado do peixe; o caril de caranguejo real do Alasca com excelente ligação da sua carne firme, macia e clara ao arroz branco e à manga verde; a perninha de cabrito assada à transmontana (sempre cabrito, se possível do Montesinho, suavemente marinado em azeite, sumo de laranja e vinho do Porto, antes de assar no forno).
Há mais cinco pratos de peixe, cinco de carne e dois vegetarianos, tendencialmente sazonais, como o arroz de marisco (para duas pessoas), muito cremoso, com amêijoa, camarão e lagosta, sem cascas; o lombo de bacalhau à portuguesa, confitado na hora, com cebola e tomatada; o filete de pregado crocante com arroz carolino cremoso, curgete picadinha e limão; os lombinhos de porco bísaro grelhados, tenros e suculentos, com puré de batata-doce, beterraba e pêssego; e o magret de pato com cuscus de espargos verdes, ervas aromáticas e pera em moscatel, com a carne em fatias grossas, húmidas, gulosas. Várias entradas, umas tradicionais, outras inovadoras. Sobremesas novas e surpreendentes, como o pudim de maçã reineta ou o suspiro de gelado de eucalipto e frutos do bosque. Garrafeira equilibrada com apreciável serviço de vinho a copo. Serviço atento, simpático, profissional.
À Justa > Calçada da Ajuda, 107, Lisboa > T. 21 363 0993 e 96 518 6459 > seg-sex 12h15-15h, 19h15-23h, sáb 19h15-23h > €35 ao almoço, €45 ao jantar (preço médio)