A última quarta-feira começou tristonha para Sol Calvillo, a chefe de cozinha mexicana, de 36 anos, a viver no Porto há quatro anos. Apesar da distância que a separa da sua terra natal, San Luis Potosi, a 400 quilómetros da Cidade do México, era impossível esconder a “preocupação e tristeza” perante as notícias do sismo que, no dia anterior, assolou o seu País. “Felizmente, os meus familiares e amigos estão bem”, conta-nos, minutos depois de nos ter recebido, como sempre acolhe quem entra no seu restaurante situado no Quarteirão das Artes, com um “Hola, qué tal?”.
Mas falemos de boas notícias, porque a que aqui nos trouxe tem ingredientes que bastem. A carta do Frida – Cocina Mestiza, o único restaurante mexicano do Porto, nascido há pouco mais de três anos, tem novos pratos desde o Dia da Pátria (16 de setembro), “um dos mais importantes para os mexicanos”, a recordar a Independência do México em 1810. “Esta foi a mudança maior da carta até agora”, assume Sol Calvillo, engenheira industrial que se apaixonou pela cozinha e pelo economista português João Marques.
Há novos mezcales e tequilhas como a Paloma (€6,50), um cocktail feito com refrigerante de toranja do México, ou a Margarita de Chocolate que se sugere para a sobremesa, com um toque picante por conta do pó da pimenta mexicana Valentina. Nas entradas também há novidades como a Quesadilla de Huitlacoche (€7,50), a trufa mexicana servida numa tortilha de milho recheada com queijo derretido, e os Jalapeños Rellenos (€7) recheados com pasta de atum “para os valentes que adoram picante”, ri-se Sol Calvillo.
Os pratos novos – mais aconchegantes a pensar no tempo frio – chegam à mesa ao som de Paloma Negra de Lila Downs, com a cozinheira a servir-nos vestida com uma túnica rosa mexicana, bordada à mão, indumentária que não dispensa. “A minha comida é como a que se serve aos domingos em casa das avós onde toda a família se costuma reunir”, diz. Desses tempos, recuperou, aliás, o Mole de Zarzamore, inspirado no Mole da avó Ana Maria, feito com 30 ingredientes e que está na ementa desde a abertura do Frida.

A chefe Sol Calvillo, na foto ao lado de uma representação feita por si de La Catrina (uma das figuras mais populares da arte mexicana)
Lucilia Monteiro
Nos pratos principais entram o Pozole Rojo (€14,50), um caldo feito à base de milho (o cacahuazintle) ao qual se junta carne de porco desfiada e chile guajillo, acompanhado com tostas de milho, rábanos, lima e – quem o queira mais picante – chile de árbol. E as Codornices en Pétalas de Rosa (€21,50) inspiradas no best-seller de Laura Esquível Como Água para Chocolate. Sol Calvillo só não garante que as codornizes tenham nos clientes o mesmo efeito – afrodisíaco – que provocaram na personagem Gertrudis… O Filete de Caña al Mezcal (€48/para duas ou três pessoas), lombo de novilho (450/500 gramas) que chega à mesa numa pedra vulcânica, cozinhado à frente do cliente com a chama do mezcal, é outra novidade.
Nas sobremesas, prove-se a Loteria – quatro chocolates em forma de caveira recheados com cajeta (doce de leite), rompope (licor de ovo) e habanero – e tente-se a sorte com as quatro cartas que o acompanham. Se lhe calhar o diabo, terá que se atrever com o chocolate recheado de picante habanero… Termine-se a refeição com outra novidade: o Romeo e Julieta com Flautas de Baunilha – uma reinterpretação do queijo com marmelada português mas, neste caso, com o queijo flamengo coberto com geleia de chile habanero, um dos mais picantes do México. Picante, já se viu, é coisa que não falta à cozinha mexicana do Frida mas, como diz o ditado, “para amarga já basta a vida”.
Frida – Cocina Mestiza > R. de Adolfo Casais Monteiro, 135, Porto > T. 22 606 2286 > seg-dom 20h-24h