O frio vai-se instalando na cidade, sem impedir que o rio, o velhinho elétrico e os barcos rabelos cheios de turistas deixem de passear na marginal. O 33 Alameda, o restaurante do Hotel Vincci, que ocupa o magnífico edifício da antiga bolsa do pescado, mantém o design avant-garde, grandes colunas e uma sala ampla e luminosa. E, tal como no hall por onde entramos, no primeiro andar, oferece uma nova perspetiva e ligação ao Douro. Ligação essa que permanece quase intacta, mesmo depois de nos sentarmos à mesa, para experimentar as novidades.
E, a que sabe o outono no 33 Alameda? A um combinado de sabores da época, onde desfilam cogumelos, batata-doce, romãs e peixe da nossa costa. Da carta anterior, o chefe Élio Pinto, 26 anos, que chegou ao hotel no final do verão, manteve apenas alguns “obrigatórios” como o bacalhau, o polvo, a morcela e a posta de lombo, alterando, sim, a forma de os confecionar. A nova carta de outono tem um sentido claro: combinar ingredientes frescos com produtos da terra e do mar, de preferência da época. “Tento não fugir das origens da cozinha portuguesa”, reforça o chefe, que trabalhou em hotéis como o Tivoli, em Coimbra, e o Vidago Palace, mais a Norte.
Começamos a refeição com carpaccio de bacalhau, pesto de coentros e puré de grão com vinagre de xerez, seguindo-se queijo brie panado, com romã e espinafres. Enquanto, no copo, servem um verde Avesso da Montanha de 2014, da Quinta do Ferro, em Baião, cujo toque de ameixa verde corta qualquer possível doçura a mais da trilogia de sabores composta por escalope de foie, ovo cozinhado a baixa temperatura e gelado de frutos vermelhos, a terceira entrada. A explicação é de Manuel Carneiro, responsável pelos departamentos de restauração e bar do Hotel Vincci: “Na nossa carta, não há vinhos de grande superfície, apenas de produtores mais pequenos.” Seguimos com a primeira ligação de terra e mar numa sopa de peixe com concasse de tomate e lingueirão, acompanhado por um rosé de 2015 da Quinta do Vallado, no Douro.
A entrada nos pratos principais faz-se com um vinho branco Lumina, de casta pinot grigio, de 2014, da italiana Ruffino, que nos vai levar por sabores como a pescada da costa, envolvida numa cobertura de amêndoa e servida numa cama de risoto de berbigão, passando depois por camarão tigre, noodles e ervilhas tortas salteadas. Os pratos de carne são também em dose dupla, mas acompanhados por um reserva tinto da Quinta do Vallado, de 2013. Primeiro vem o tornedó de novilho com foie, servido em cima de puré de batata-doce e rodeado por cogumelos. Depois é a vez da jarrete de borrego acomodar-se num creme de batata violeta e ragout de legumes. É verdade que os olhos também comem, e muito, nesta “cozinha de autor de base mediterrânica”, que, diz Manuel Carneiro, “junta sempre ao ingrediente português um detalhe espanhol.” A ligação justifica-se por este hotel de quatro estrelas pertencer ao grupo madrileno Vincci.
Por esta altura, a tarde já vai longa e o sol começa a aproximar-se do mar, bem para lá da Ponte da Arrábida. É com o moscatel espanhol Floralis, da Torres, que deixa o copo tingido de ouro profundo, que prosseguimos, provando o tradicional leite-creme, enfrascado, no qual, segundo o chefe “não há muito para inventar”, e o sempre doce pudim abade de priscos servido com morangos e kiwis desidratados. E, claro, seria impossível abandonar a mesa sem provar o fondant de caramelo e chocolate alinhado com sorvete de limão, que é “só” a sobremesa mais pedida no 33 Alameda.
33 Alameda > Hotel Vincci, Alameda Basílio Teles, 29, Porto > T. 22 043 9620 > seg-dom 12h30-15h, 19h30-23h > €25 (preço médio com vinho)