Três meses depois da mudança de instalações do Bairro Alto para o Cais do Sodré, mais com retamente para o grande espaço gastronómico que a revista Time Out criou e gere no lendário Mercado da Ribeira, confirma-se que o restaurante Pap’açorda mantém a mesma cozinha de sabores tradicionais portugueses, por vezes com um toque de inovação, acrescentando-lhe alguns pratos contemporâneos.
É o único restaurante do primeiro andar (entrada pelo portão principal, subindo a escadaria, à esquerda, ou o elevador, nas traseiras) com um espaço amplo e cheio de luz natural, virado para a 24 de Julho e a Praça D. Luís, e dividido em duas grandes salas, tendo a cozinha de permeio. Falta-lhe aquele ambiente recolhido da sala do Bairro Alto, onde as pessoas se viam todas à chegada, mas compensa com as maiores facilidades de acesso e de parqueamento, o espaço alargado entre as mesas, a luz de Lisboa (de entontecer, dizia Cardoso Pires), a decoração moderna, leve e alegre. E o essencial mantém-se: comida tradicional muito bem confecionada e apresentada, ou não fosse da responsabilidade de Manuela Brandão, que dirige a cozinha há 34 anos, praticamente desde a abertura do Pap’açorda.
Temos as açordas, a real e a de gambas, qual delas a melhor, os filetes de peixe-galo e de pescada, cuja fritura é irrepreensível, tal como a dos linguadinhos, dos jaquinzinhos ou de outros peixes (estes fritos, com uma açorda de tomate ou um bom arroz a acompanhar, são deliciosos), os peixinhos da horta, os croquetes, os pastéis de massa tenra, temos tudo isso, que é do melhor que há na cidade e arredores. E temos muito mais, incluindo novos pratos, como os peixes do mercado grelhados, escabechados ou confecionados de modo diverso.
Entre as novidades destacam-se, por um lado o gaspacho e a salada de garoupa, ambos pedidos pelo verão e ambos excelentes; por outro, a sopa de mexilhão folhada e a canja de rabo de boi com rabanada de vinho do Porto, que são igualmente gulosos, embora diferentes. A doçaria continua a ser de base tradicional e conventual, não faltando aquela musse de chocolate que derrama na boca o seu sabor intenso e o leite-creme à portuguesa. Atenção, também, ao pudim de tangerina e ao toucinho do céu com pera bêbada. Garrafeira climatizada com um leque de referências que permite boas escolhas.
Pap’Açorda > Av. 24 de Julho, 49, 1º, Lisboa > T. 21 346 4811 > ter-qua 12h-24h, qui-sáb 12h-2h (a cozinha fecha sempre uma hora mais cedo do que a sala) > €30 (preço médio)