Há nomes que são todo um programa. Mosquito? É um apelido instigador de punchlines e metáforas, oportunidade que o artista angolano, nascido em 1981, não desperdiça. Assumindo uma intervenção artística próxima do manifesto, em 2019, Nástio desenvolveu uma série de performances espoletadas por questões identitárias, por uma “pesquisa de base autobiográfica que explora perceções sobre o inseto com que partilha o nome” e pelo mote No.One.Gives.A.Mosquito’s.Ass.About.Us.
A variante No.One.Gives.A.Mosquito’s.Ass.About.Our.Performance foi apresentada no âmbito da abertura oficial da 58ª Bienal de Arte de Veneza, explorando noções de centro e periferia, de acesso dos africanos e/ou não alinhados com os circuitos de visibilidade e poder. Agora, no Hangar, há uma “exposição expandida”:
No.One.Gives.A.Mosquito’s.Ass.About.Trabalho.De.Preto é uma instalação audiovisual composta por nove soundscapes, a que se junta um programa semanal de sessões áudio e uma dimensão comunitária que extravasa o white cube: voluntários vão distribuir autocolantes, stencils e folhetos seus em várias zonas de Lisboa, Sintra e Margem Sul. Está, igualmente, a decorrer uma recolha de testemunhos (em texto, vídeo, áudio…), em que se convida, provocatoriamente, a responder às questões “o que significa para ti a expressão ‘trabalho de preto’?”, “porque te consideras preto?”, “qual a última coisa de preto que fizeste?”. Outra forma de encenar e confrontar dimensões racistas, colonialistas, estereotipadas – e de fazer da exposição uma caixa de ressonância. O desafio, diz Mosquito, é “falar com todos os pretos loiros, pretos morenos, pretos acromáticos, pretos das redes sociais, pretos com suposta representatividade, pretos que todos os dias acordam com a vontade interior de ser resoluções de problemas”. Picada de inseto, epidemia a alastrar.
No.One.Gives.A.Mosquito’s.Ass.About.Trabalho.De.Preto > Hangar > R. Damasceno Monteiro, 12, r/c, Lisboa > T. 21 887 1481 > 21 nov-15 fev, qua-sáb 15h-19h > grátis