Tem-se falado bastante de restaurantes e prémios, a propósito da atribuição das Estrelas Michelin 2020, e, como de costume, pouco ou nada se diz sobre aqueles que o influente guia distingue no Bib Gourmand, por servirem boa comida a preços moderados. É o caso de O Parreirinha, em Tercena, para os lados de Queluz, restaurante de cozinha genuinamente portuguesa (que os inspetores do Michelin sistematicamente excluem das estrelas, por ignorância ou despeito, não obstante ser, como bem escreveu Fialho de Almeida, “a mais requintada, a mais voluptuosa e a mais sápida cozinha do mundo”). O Parreirinha tem créditos firmados ao longo de 56 anos, os últimos oito dos quais com nova gerência, que soube preservar a identidade da casa, tanto na estrutura – três salinhas contíguas (a última para fumadores), ar rústico com telheirinhos e madeiras em evidência –, como na gastronomia. Há melhorias, como a lareira na sala do meio, a toalha preta sobre outra bege e o individual por cima a condizer com as duas, o guardanapo de pano com botão e monograma, que o tornam mais agradável e acolhedor.

A ementa muda todos os dias, mantendo os pratos considerados insubstituíveis e acrescentando outros em função do mercado. Assim, nas entradas, a par dos folhadinhos de queijo de cabra, que raramente faltam, podem surgir pataniscas de bacalhau, peixinhos da horta, ovos mexidos com farinheira ou com espargos e linguiça, torresmos, polvo à espanhola, rolinhos de farinheira e outros verdadeiros petiscos, nunca menos de cinco a seis por dia. Nos pratos de peixe é forçoso destacar a açorda de ovas com peixe frito, que nunca falta, com a açorda muito bem feita e o peixe frito como deve ser; e a garoupa, seja simplesmente cozida ou grelhada, seja na cataplana ou cozinhada com massa ou com arroz (neste caso, com um suplemento de camarão).
Outros arrozes apetecíveis são, sempre, o de lingueirão e o de línguas de bacalhau, que têm clientes diários. Da qualidade da carne falam, por exemplo, o bife da vazia (carne maturada Angus), com batatas fritas e esparregado ou legumes (o acompanhamento pode ser outro, à escolha do cliente, tal como sucede, aliás, com a generalidade dos pratos); as costeletas de borrego com migas (couve cortada como para caldo-verde, feijão-frade e broa), arroz e batatas fritas; coelho desossado e frito em azeite e alho; carne de porco à Mercês, que é como a “alentejana” sem as amêijoas; bochechas com um excelente molho feito com redução do caldo da carne; iscas de porco, com aquele gostinho residual da vinha-d’alho a reforçar o da cebolada. Atenção ainda à sugestão do dia, que só tem um prato fixo, à sexta-feira: cozido à portuguesa, que leva tudo o que lhe compete. Boa doçaria tradicional com um trio favorito: tarte de amêndoa, marquise de chocolate e bolo de bolacha. Garrafeira com oferta melhorada, incluindo vinho a copo até aos de média gama, embora não conste da respetiva carta. Serviço eficiente e simpático.
O Parreirinha > Av. Santo António, 41, Tercena, Barcarena, Oeiras > T. 21 437 9311 / 96 281 9579 > seg-sex 12h-15h, 19h30-22h, sáb 19h30-22h > €25 (preço médio)