Os patos continuam a passear pelo manto verde do Parque da Cidade, alheios ao que se passa à volta. O chilrear dos pássaros só é perturbado com o barulho das montagens dos palcos e, mesmo essas, são pensadas ao pormenor a pensar na minimização do impacto ambiental numa das manchas verdes mais extensas do Porto. A estrutura dos palcos do Optimus Primavera Sound – festival que, uma semana depois de ter brilhado em Barcelona sai, pela primeira vez, da capital da Catalunha entre esta quinta 7, e domingo, 10 – foi entregue ao artístico plástico João Paulo Feliciano numa iniciativa inédita neste tipo de eventos musicais [ver caixa]. A preocupação ambiental tem sido levada muito a sério pela organização. Entre várias iniciativas, como a zona de alimentação restrita ao espaço do Queimódromo, cada espetador receberá um kit com uma manta/toalha que tanto pode servir para fazer um piquenique como de agasalho, um cinzeiro portátil e três sacos do lixo.
Está tudo a postos para receber o Optimus Primavera Sound. A cidade aguarda-o com expectativa e vê neste evento “uma oportunidade” para promover a cidade eleita como Melhor Destino Europeu em 2012. Cerca de 70% dos bilhetes foram vendidos no estrangeiro, o que aumenta a fasquia de responsabilidade relativamente à forma como o Porto irá acolher os estrangeiros de cerca de 40 nacionalidades. Pelos quatro palcos, vão passar algumas das bandas mais emergentes da atualidade. Apesar da desistência da mediática Björk (por motivos de saúde) o primeiro Primavera Sound português soma cerca de 60 nomes capazes de arrastar multidões. Aponta-se para 25 mil diariamente. Um desses espetadores será certamente o fã dos Black Lips que vai receber a banda norte-americana em sua casa num concerto privado que antecede o do Parque da Cidade, na sequência de um concurso levado a cabo pela Optimus, principal patrocinador do festival. Há alguns meses, numa passagem pelo Porto, Abel González, diretor do Primavera Sound de Barcelona, afirmava que o congénere no Porto será “um ponto verde nos festivais de música”. Para continuar, pelo menos, durante três edições.
João Paulo Feliciano, o senhor dos palcos
Uma das (muitas) particularidades do Optimus Primavera Sound é o facto de a organização ter entregue a conceção dos palcos ao artista plástico e músico João Paulo Feliciano que, entre outros projetos, foi líder da banda rock Tina and the Top Ten nos anos 90. “Os palcos são só uma das componentes, eventualmente a mais importante porque são o centro das bandas”, conta-nos, durante uma visita ao Parque da Cidade, a uma semana do festival. “No Primavera não distinguimos os palcos. Três ficam nos recintos e foram objeto de um cuidado particular, em termos de volumetria e integração na paisagem”. Uma das novidades é o abandono de telas impressas com publicidade nas zonas laterais.
“O palco é limpo de comunicação gráfica e verbal”, garante. O palco Optimus e o Primavera, situados próximos um do outro, junto ao lago, terão uma quase ligação entre um e outro a fazer lembrar as “colinas do próprio Parque”. Serão cobertos por um camuflado que os confunde com as cores verdes da paisagem. A publicidade habitual dos patrocinadores dos palcos ficará restrita a uma torre de luz dinâmica, “objetos escultóricos quase artísticos”, defende. Também o palco ATP (da promotora britânica All Tomorrow’s Parties) será feito com base em madeira rústica a fazer lembrar os corta-ventos existentes no parque. “O cuidado na orientação dos palcos para evitar que o som chegue a casa das pessoas” foi outra preocupação. No Optimus Primavera Sound também não haverá distribuição de brindes “desnecessários”. “Aquilo que está em jogo é a fruição da música num contexto maravilhoso” lembra João Paulo Feliciano que, apesar do trabalho, espera ter tempo para usufruir da música de algumas das suas bandas favoritas como os noruegueses Kings of Convenience.