As pessoas com excesso de peso e obesidade, que em Portugal rondam os 60% da população, ficam condicionadas a uma série de outros problemas de saúde. Os quilos a mais aumentam muito o risco de se ter diabetes, doenças cardiovasculares, osteoarticulares e alguns tipos de cancro. Isto são factos inequívocos, como nos garante João Filipe Raposo, endocrinologista, diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia.
O especialista nota que pode repetir até á exaustão estes números, juntando ainda os mais de um milhão de portugueses com diabetes, pode referir os custos com os tratamentos e com as complicações inerentes a estes males (cegueira, insuficiência renal, amputações, por exemplo), mas as pessoas seguem nos seus comportamentos errados, sem se assustarem. Culpa da exaustão do tema e da pouca valorização que se dá à diabetes ou à obesidade. Além disso, são doenças associadas a um julgamento por parte da sociedade – elas aparecem porque, provavelmente, andaram a comer mal e a fazer pouca atividade física, apesar de haver pessoas que têm mais probabilidades de isso lhes acontecer.
João Filipe Raposo sugere então que o investimento tem de ser feito a montante, de forma estrutural, na prevenção, e a nível nacional, em vez de ser isso ser desviado para a responsabilidade individual. A poupança será real e a vários níveis.
“A solução não pode ser a mesma para todos, porque sugerir exercício físico a quem tem dificuldade em ter 30 minutos para si, no meio de uma vida de vai-e-vem para o trabalho e de tratar dos filhos, não resulta”, afirma. O mesmo se passa com pregar uma alimentação saudável, baseada em produtos frescos. Se não houver uma resposta concreta para dar, todos estes conselhos médicos podem causar apenas infelicidade.
Então, repete, o investimento necessário e urgente é aquele que permitirá a modificação de um modelo de sociedade diferente. Políticas de saúde que melhorem as nossas condições de trabalho, o nosso ambiente urbano para ser mais atraente a caminhadas e a rede de transportes públicos que convidem a deixar o carro parado à porta, são apenas três exemplos concretos do que deveria ser feito já.
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