“Portugal é o país da OCDE com mais episódios de urgência”, começou por afirmar Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão da Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João, no Porto. De acordo com os dados mais recentes, o País soma 70,2 ocorrências por cada 100 habitantes, bastante acima da média dos países da OCDE que é de 30,8.
Em números absolutos, significa que mais de 6 milhões de pessoas recorrem aos serviços de urgência, anualmente. O problema é que muitas destas idas ao hospital são desnecessárias. “Mais de 30% dos episódios de urgência são situações efetivamente não urgentes, o que significa que estamos a pôr em causa a celeridade e, eventualmente, a qualidade do tratamento das pessoas que têm realmente a sua vida em risco”, alertou o internista.
Como tal, em entrevista às Conversas da VISÃO Saúde, Nelson Pereira fez questão de sublinhar que “é importante as pessoas perceberem que não devem ir à urgência sem serem referenciadas por terceiros”, ou sejam, existem alguns passos que devem ser dados antes de se tomar essa decisão.
Em primeiro lugar, perante uma clara de emergência médica, deve ligar-se para o INEM (112), que transporta os doentes para o hospital, se for necessário, e pode antecipar alguns cuidados logo durante a deslocação.
Já numa situação menos urgente, o primeiro contacto com os serviços de saúde deve ser feito através da linha SNS24 (808 24 24 24) que, se chegar à conclusão de que se trata de um caso com alguma gravidade, encaminha as pessoas para o hospital e permite-lhes beneficiar de duas vantagens: isenção de taxas moderadoras e prioridade de acordo com a cor atribuída na triagem de Manchester, que hierarquiza o atendimento dos utentes segundo o seu estado clínico.
Outra forma de entrar em contacto com o SNS é através do médico de família, que também pode direcionar os doentes para a urgência e garantir-lhes os mesmos benefícios da linha SNS24.
Nelson Pereira explica que, por vezes, os tempos de espera na urgência prolongam-se devido à utilização desnecessária do serviço, ultrapassando os tempos de referência estabelecidos pela triagem de Manchester, dividida em cinco cores: vermelho (atendimento imediato), laranja (10 minutos de espera), amarelo (uma hora), verde (duas horas) e azul (quatro horas).
O diretor da urgência do São João ilustra as idas desnecessárias à urgência com vários episódios mais ou menos caricatos e destaca a importância do comportamento de cada um contribuir para uma maior eficácia do SNS.
Contudo, reforça que é fundamental encontrar respostas adequadas a todas as necessidades, que muitas vezes não passam pela urgência.
No Hospital de São João, a afluência à urgência tem ultrapassado a média anterior à pandemia, registando-se cerca de 500 episódios diários, sendo entre 100 a 150 “situações anedóticas”.
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