Pode acontecer a muitas pessoas à medida que se tornam mais velhas. Tarefas físicas extenuantes e atividade física que antes era relativamente fácil começam a tornar-se mais difíceis, acompanhadas de um maior desconforto, falta de ar ou tonturas. As causas podem ser inúmeras, mas o problema é sério e não deve ser ignorado: pode tratar-se de ‘intolerância ao exercício físico’, um termo abrangente que inclui os sintomas de várias condições, em que o paciente não consegue praticar atividade física que seria normal para a sua idade, tamanho e nível de aptidão física.
A comunidade médica está a estudar o fenómeno, e exames sofisticados permitem desenvolver tratamentos adequados, uma vez que é aconselhável que se continue a praticar exercício físico à medida que se envelhece, desde que seja seguro.
Afinal o que é a intolerância ao exercício físico?
A intolerância ao exercício não é uma doença em si – refere-se antes ao conjunto de sintomas que podem advir de uma multiplicidade de condições médicas, particularmente ligadas a problemas cardíacos ou respiratórios. Manifesta-se através da diminuição da capacidade de praticar atividade física ou executar tarefas físicas geralmente possíveis para a idade, tamanho e nível de aptidão física de uma pessoa.
A condição pode ser debilitante para algumas pessoas, incapacitando-as de praticar qualquer atividade física e originando dificuldades em executar tarefas simples do dia-a-dia, ou pode manifestar-se de forma mais leve noutras. Os sintomas incluem fadiga extrema, dificuldades respiratórias, náuseas, dores musculares ou fraqueza durante ou após a atividade física. Em casos mais extremos, os pacientes podem sofrer de cãibras ou tonturas.
Não será uma surpresa se dissermos que algumas infeções – como a Covid-19 – podem provocar ou agravar os sintomas desta condição. Um estudo publicado em agosto na revista médica Chest contou com dez participantes que tinham recuperado da Covid-19 e submeteu-os a uma série de testes de exercício cardio-pulmonar invasivos. Verificou-se que os pacientes que recuperaram da Covid-19 sofreram uma redução drástica da capacidade aeróbica durante aqueles testes. Os participantes sofriam de fadiga extrema, falta de ar, tonturas e hiper-ventilação durante o exercício, sintomas causados por uma regulação deficiente do fluxo sanguíneo e incapacidade de utilizar o oxigénio de forma eficiente.
Os investigadores acreditam que a Covid-19 desencadeia uma resposta auto-imune que causa danos nas pequenas fibras nervosas que regulam os vasos sanguíneos, e que também têm funções importantes nos sistemas cardiovascular e gastrointestinal, de acordo com Aaron Waxman, diretor do Programa de Doenças Vasculares-pulmonares no Brigham and Women’s Hospital em Boston.
Mas há soluções para estas pessoas. Michael Risbano, do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, que acompanha pacientes que recuperaram da Covid-19 numa clínica específica para o efeito, refere que, apesar de alguns pacientes terem receio de retomar o exercício físico depois da doença, são aconselhados “a exercitarem-se dentro dos limites das suas capacidades, mesmo que seja em períodos curtos”.
Um diagnóstico difícil
Infelizmente, a intolerância ao exercício físico pode ser uma condição difícil de diagnosticar, uma vez que é difícil para os médicos avaliarem objetivamente as queixas dos pacientes, e frequentemente é necessária uma série de testes complexos e invasivos. Podem ser feitos, por exemplo, testes em que o paciente caminha ou corre numa passadeira ou pedala numa bicicleta estática ao mesmo tempo que são avaliados os seus sinais vitais.
No Hospital National Jewish Health de Denver, J. Tod Olin trata pacientes que sofrem de EILO – obstrução laríngea induzida pelo exercício – uma condição em que as vias respiratórias se estreitam durante o exercício, impedindo a passagem de ar e causando respiração ofegante.
Para avaliar a condição dos seus pacientes, estes têm de correr numa passadeira com um tubo flexível, equipado com uma pequena câmara, inserido pelo nariz que vai até à parte de trás da garganta. Através da câmara é possível verificar o nível de estreitamento das vias respiratórias e aconselhar o tratamento adequado. Olin aconselha os pacientes a tentarem diferentes métodos de respiração, em combinação com a gestão do stress e abordagens específicas do desporto.
Outros métodos podem incluir, por exemplo, a inserção de cateteres nas veias do pescoço com ligação ao coração, o que permite avaliar o fluxo sanguíneo à medida que os pacientes se exercitam. Os dados obtidos podem permitir diagnosticar insuficiência cardíaca ou níveis demasiado altos de pressão arterial nas artérias pulmonares.
O uso crescente dos chamados testes de exercício cardio-pulmonar invasivos tem permitido aos médicos, nos últimos anos, fazer análises mais precisas e aconselhar tratamentos mais eficazes – que podem também incluir medicação ou ajustes na dieta. É possível assim intervir e providenciar tratamento antes que as condições se tornem debilitantes ou perigosas para a vida dos pacientes.
Consultar um médico é a melhor opção se suspeita que pode estar a ser afetado por intolerância ao exercício físico. Além disso, os profissionais aconselham tentar perceber quais são os seus limites pessoais e que tipo de atividades desencadeiam mais sintomas, e estar atento às reações do corpo. Também pode ajudar adotar algumas modificações na rotina, como evitar tarefas muito extenuantes ou adaptá-las para que sejam menos cansativas – como sentar-se para preparar alimentos ou dobrar a roupa, usar o apoio de um banco para tomar duche ou pedir a ajuda de alguém para carregar objetos pesados.