Dos pickles aos gelados, passando pelas batatas fritas, caixas de chocolates ou batidos, toda a gente já ouviu falar nos desejos das grávidas. Segundo um estudo feito pelo site de maternidade gurgle.com, 75% das mulheres grávidas dizem ter desejos muito fortes por determinados alimentos durante a gravidez – um crescimento de 45% nos últimos anos. “A pesquisa indica que apenas 8% das entrevistadas disseram sentir desejos durante a madrugada, uma vez que as vontades são mais frequentes no período da tarde e da noite”, acrescenta Cristina Maia Barbosa, ginecologista e obstetra do Hospital Lusíadas de Lisboa, no site do grupo de saúde.
Seja por alimentos doces, salgados, picantes ou fritos ou por combinações menos comuns, estes desejos parecem mudar consoante a cultura de cada grávida. Vários estudos mostram como, por exemplo, uma mulher na Nigéria tem mais tendência a querer frutas e vegetais, enquanto uma mulher dos Estados Unidos poderá pedir mais chocolate. Já no Japão, o desejo mais frequente entre as grávidas envolve arroz e, na Tanzânia, os alimentos mais desejados são as mangas, iogurtes, laranjas e refrigerantes.
Pouco se sabe sobre o porquê destes desejos afetarem tantas mulheres, existindo duas grandes teorias que dividem a comunidade científica. Por um lado, diversos especialistas acreditam existirem mudanças hormonais na base destes desejos. Por outro, uma parte significativa dos especialistas de nutrição e obstetrícia defende que o motivo para várias mulheres pedirem determinados alimentos significa que estão em défice nutricional.
A culpa é das hormonas?
Muitas mulheres alegam que sentem vontade de alimentos que, anteriormente, não gostavam ou não tinham vontade de comer. Outras, que seguiam dietas veganas ou vegetarianas, contam que experienciaram o desejo de voltar a consumir carne, quebrando o seu regime alimentar. É o exemplo da atriz e cantora Halle Bailey que, após 13 anos a seguir uma dieta vegan, voltou a consumir carne durante a gravidez.
De acordo com a ciência, a culpa pode estar nas hormonas. Libertadas durante a gravidez, a hormonas gonadotrofina coriónica humana (HCG) e progesterona alteram o apetite e levam a mudanças do paladar, olfato e do pH da boca. Mudanças que fazem com que a grávida sinta vontade de comer alimentos que não gostava e deixe de gostar de outros que consumia regularmente.
Déficit nutricional
Outra teoria que pode ajudar a explicar estes desejos é a falta de nutrientes na mulher ou feto. Segundo Melanie McGrice, especialista em nutrição, o desejo – muito comum – por alimentos salgados durante a gravidez pode indicar que a mulher não está a beber água suficiente. “Durante a gravidez, as nossas necessidades de líquidos aumentam cerca de 150 por cento. No entanto, a ingestão de líquidos da maioria das mulheres não aumenta”, explicou ao jornal britânico The Guardian, realçando que o volume total de sangue no corpo durante a gravidez aumenta 45 por cento. Já, por exemplo, o desejo por alimentos doces – como o chocolate – pode significar a falta de magnésio e a vontade de comer açúcar corresponde à falta de nitrogénio.
Mas os desejos na gravidez não se limitam a alimentos. A carência de ferro pode por vezes provocar desejos inexplicáveis por substâncias não alimentares – como giz, gelo ou terra. Um fenómeno designado por “Pica” que afeta 4% das mulheres durante a gravidez. Contudo, este não é exclusivo das grávidas, podendo ser explicado por outros fatores.
Deve seguir estes desejos?
Embora não seja problemático seguir, pelo menos a maior parte, destes desejos alimentares, os especialistas avisam que o seu consumo deve ser feito com alguma moderação. Ingerir grandes quantidades de alimentos ricos em açúcar, gordura e hidratos de carbono resulta no risco de aumento de peso e de diabetes gestacional e pode levar ao aumento do peso do bebé e ter consequências no seu metabolismo. “Nenhuma investigação confirma que estes desejos são essenciais para o desenvolvimento fetal ou necessários para uma gravidez saudável. De facto, muitos desejos são frequentemente por alimentos que não são nutricionalmente benéficos”, explicou Sowmya KN, obstetra no Hospital de Bengaluru, Índia, ao India Today.
Por outro lado, satisfazer estes desejos pode libertar dopamina, serotonina e endorfina, substâncias que geram prazer e melhoram o humor. “Pode ser que ninguém saiba porque surgem essas vontades excêntricas durante a gravidez, mas como a maioria dos desejos e das aversões acabam por ser mais curiosos do que sérios, não devem constituir motivo de preocupação”, assegurou Barbosa.