Uma nova investigação, realizada por especialistas do Centro Charles Perkins da Universidade de Sydney, na Austrália, e que envolveu mais de 70 mil voluntários, concluiu que aumentar o número de passos por dia (atingindo até cerca de 10 mil) pode ajudar a contrariar as consequências negativas para a saúde do tempo diário sem atividade em pessoas altamente sedentárias.
Os estudos têm mostrado que a quantidade diária de passos importa, mas ainda não há consenso sobre a dose certa para ter ganhos em saúde e evitar morte prematura. Por exemplo, uma meta-análise divulgada no Jornal do Colégio Americano de Cardiologia, em outubro, sugeriu que o número ideal de passos diários capaz de reduzir significativamente o risco de morte prematura se situa nos oito mil e, no caso do risco de morte por doença cardiovascular, esse valor diminui para sete mil, o equivalente a percorrer uma distância de seis quilómetros.
Outra investigação, divulgada em agosto, no Jornal Europeu de Cardiologia Preventiva, tinha sugerido que andar, em média, quatro mil passos diários era a dose certa para baixar o risco de morrer precocemente por qualquer causa, ou 2300, considerando a redução desses riscos no plano cardiovascular. Importa acrescentar que os ganhos eram reais, mas quando comparados com os indicadores de pessoas sedentárias.
O novo estudo pretendia medir de forma objetiva se os passos diários podem compensar os riscos para a saúde de um comportamento sedentário elevado. Para isso, utilizou dados de britânicos com idade média de 61 anos, sendo que 58% eram relativos a mulheres retirados do UK Biobank, um grande banco de dados de saúde do Reino Unido. Os participantes utilizaram acelerómetros no pulso durante sete dias, para que a equipa pudesse, depois, estimar a contagem diária de passos e o tempo sedentário dos voluntários (sentados ou deitados quando acordados).
Ao mesmo tempo, a equipa teve em conta outros dados de saúde dos participantes, como o registo de hospitalizações, por exemplo, e fatores como a idade, o sexo, a etnia, a educação, o tabagism e o consumo de álcool, tendo excluído aqueles com problemas de saúde, que tiveram algum problema ou evento relacionado com a saúde nos dois anos a seguir ao acompanhamento ou que tinham peso a menos.
A equipa conseguiu concluir que a mediana do número de passos diários dos participantes foi de 6222, sendo que 2200 passos/dia (os 5% mais baixos de passos diários entre todos os participantes) foi considerado o parâmetro de comparação para avaliar o impacto do aumento do número de passos no que diz respeito a eventos cardiovasculares e morte. Além disso, decidiu que consideraria 10,5 horas por dia ou mais de sedentarismo como elevado e menos do que esse tempo como sedentarismo baixo (o tempo médio de sedentarismo dos participantes foi de 10,6 horas por dia).
Os investigadores informaram que, durante o período de acompanhamento, foram registadas 1633 mortes e 6190 eventos cardiovasculares e calcularam que o número ideal de passos por dia que devem ser dados para contrariar o elevado tempo de sedentarismo situa-se entre os 9 mil e os 10 mil. Desta forma, afirma a equipa, é possível reduzir o risco de mortalidade em 39% e o risco de incidência de eventos cardiovasculares em 21%, independentemente do tempo de sedentarismo.
“Qualquer quantidade de passos diários acima dos 2200 de referência foi associada a uma menor mortalidade e a um menor risco de incidência de eventos cardiovasculares, para um tempo de sedentarismo baixo e elevado”, referem os investigadores.
Apesar dos resultados do estudo, publicado no British Journal of Sports Medicine, os autores reconhecem algumas limitações, tais como a possibilidade de outros fatores que não foram analisados poderem afetar os resultados e o facto de este ter sido um estudo observacional, não sendo possível estabelecer uma relação direta de causa/efeito.
“Este estudo não é, de modo algum, um cartão de saída da prisão para as pessoas que são sedentárias durante períodos de tempo excessivos, mas contém uma importante mensagem de saúde pública de que todos os movimentos são importantes e que as pessoas podem e devem tentar compensar as consequências para a saúde do tempo de sedentarismo inevitável aumentando a sua contagem diária de passos”, explica, em comunicado, Matthew Ahmadi, investigador e autor principal do estudo.