Fazer uma tatuagem tem os seus riscos, desde logo o de infeção. Daí que seja desaconselhado que uma pessoa com o sistema imunitário enfraquecido faça uma tatuagem. No entanto, com a repetição do processo, o corpo pode sair fortalecido.
Uma agulha cheia de tinta representa uma agressão para a pele. É, pelo menos, dessa forma que o corpo reage quando recebe uma tatuagem. E faz sentido que assim seja. Afinal, a pele, o maior órgão do corpo humano, funciona como a “primeira barreira” do sistema imunitário. Ela está carregada de células defensivas, pequeníssimos soldados que, quando detetam alguma coisa estranha, entram rapidamente em ação, destruindo-a para que o processo de cura possa começar.
É, porém, possível que as células imunitárias, ao aprenderem a coexistir com a tinta da tatuagem, possam calibrar as suas reações, defende Tatiana Segura, especialista em Biomateriais da Universidade de Duke, nos EUA. Como? Os macrófagos da pele, que tudo devoram, podem recordar alguns dos “encontros” que tiveram com materiais estranhos e responder melhor a futuros ataques autoimunes.
Tatiana Segura não está sozinha nessa sua convicção. Já em 2016, investigadores da Universidade do Alabama, também nos EUA, demonstraram que o corpo reage melhor a cada nova tatuagem. Se à primeira o sistema imunitário fica enfraquecido pela “guerra” travada com o agente estranho, no caso a tinta, nas seguintes a sua resistência aumenta.
Nos últimos anos, surgiram mais estudos a apontar no mesmo sentido, embora com amostras reduzidas. E, quando se sabe que partículas microscópicas da tinta são capazes de “viajar” no corpo humano, acabando por se depositar nos gânglios linfáticos, sendo que o sistema linfático tem um importante papel no sistema imunitário, percebe-se por que razão os cientistas são, ainda, cautelosos.
(Publicado na VISÃO Saúde nº 30 de junho/julho de 2023)