Quando sofremos um desgosto amoroso, o nosso corpo reage. E o que acontece com ele é muito semelhante ao que se passa quando alguém que amamos morre ou sofremos qualquer outro tipo de perda, de acordo com os especialistas.
Em 2017, Manuel de Juan Espinosa, professor de psicologia da Universidade Autónoma de Madrid, explicou ao site espanhol ABC que, após o fim de um relacionamento, existe maior libertação de cortisol, a hormona do stress. “O cérebro aterroriza-se e reage como se estivesse a enfrentar a uma ameaça. O sistema imunitário enfraquece e sobem os níveis de stress”, revelou, referindo, por outro lado, que “pouco a pouco, o cérebro volta a recuperar a normalidade”.
“É verdade que a dor pode provocar uma “mordida” no estômago às vezes, mas vai ser cada vez menos frequente”, referiu Espinosa.
Sintomas físicos
Em declarações à Sky News, a jornalista científica Florence Williams conta que ficou surpreendida depois de perceber o que o divórcio por que passou, depois de um casamento de 25 anos, fez com o seu corpo. “O meu corpo sentiu-se ameaçado”, refere, acrescentando que começou a ter permanentemente uma “sensação de ansiedade e hipervigilância” e confusão mental, além de não conseguir dormir e de ter perdido peso.
Quando o stress emocional provoca sintomas físicos, tal como dores de cabeça ou náuseas, por exemplo acontece o que a medicina denomina somatização. “Embora não haja uma causa física, os sintomas são muito reais, não são inventados” explica, por seu lado, o médico generalista Abishek Rolands.
Já a neurocientista Lucy Brown afirma que existe um cocktail químico que explica porque ficamos tão infelizes “quando somos abandonados”. Juntamente com uma equipa de investigadores, Brown realizou um estudo sobre o impacto físico do desgosto, examinando a atividade cerebral de 15 jovens adultos que estavam a passar por fins de relação indesejados, através da realização de tomografias computorizadas (TAC).
Os participantes do estudo foram instruídos a verem fotografias dos seus ex-parceiros e os exames revelaram que, nesses momentos, os locais do cérebro que alimentam o nosso sistema de motivação e recompensa, e onde estão alojados os neurónios dopaminérgicos, entraram em ação, uma hiperatividade que a investigadora compara ao que aconteceria com uma pessoa viciada em cocaína.
Coração partido
“Quando perdemos alguém, perdemos uma parte muito gratificante das nossas vidas e do sentido de identidade. Essas pessoas proporcionaram uma novidade na vida que agora não existe, então precisamos de outras recompensas”, explica Brown.
Além disso, neste estudo também foram ativadas áreas cerebrais associadas à dor física, afirma a investigadora, já que a rejeição, como esclarece, desencadeia uma parte do cérebro denominada lobo da ínsula, como resposta à angústia quando sentimos dor.
A mesma análise encontrou efeitos da perda também no sistema imunitário, e a investigadora afirma que “as nossas células ouvem, mesmo, o nosso estado mental”.
Quando o sofrimento psicológico é muito intenso, pode ainda levar a uma condição conhecida como “síndrome do coração partido”, identificada pela primeira vez em 1990, no Japão, e que apresenta sintomas semelhantes aos de um ataque cardíaco (falta de ar e dor no peito).
Geralmente, é causada por uma situação de stress agudo, incluindo a perda de um ente querido, um acidente de carro ou até um acontecimento feliz, tal como um casamento. Embora seja uma situação reversível, em alguns casos pode levar à morte.
Ao contrário do que acontece durante um evento de ataque cardíaco, a condição não provoca bloqueios nas artérias coronárias, mas altera totalmente o formato do ventrículo esquerdo do coração, que bombeia sangue oxigenado por todo o corpo.
Sindy Jodar, enfermeira na British Heart Foundation, refere que “a única explicação” que existe até agora para esta síndrome “é que, quando o corpo está stressado, liberta muitas catecolaminas (adrenalina)”, o que, em excesso no corpo, pode afetar o coração.
Curar como se cura um vício
De acordo com Brown, curar um desgosto deve ser encarado de maneira igual a quando queremos “abandonar um vício”.
Trabalhar em sentimentos que nos afastem das sensações negativas é importante, assim como realizar atividades que nos acalmem. “Uma boa estratégia é começar a fazer coisas que não fez durante um relacionamento, como correr ou viajar”, aconselha a investigadora.
Também é importante assumir o que se está a sentir. Por exemplo, um estudo de 2015 conduzido por uma equipa de investigadores holandeses revelou que chorar pode ser uma forma de melhorar o humor e posteriormente ajudar a ultrapassar a dor do fim de um relacionamento.